5 de nov. de 2014

Feira do livro de Porto Alegre e a inclusão das pessoas com deficiências.



Feira do Livro busca incluir pessoas com deficiência, mas ainda não tem acessibilidade plena

A 60ª Feira do Livro de Porto Alegre, abri nesta última sexta-feira (31), tem como objetivo ser acessível para pessoas com deficiência, com diversas iniciativas que prezam pela sua inclusão. Embora ainda não seja plenamente adaptada para receber este público, esta edição é mais preocupada com a questão até agora. Entre os destaques estão diversas atividades com narração em libras e audiodescrição.



No ano passado, a área Infantil e Juvenil já contava com a Estação da Acessibilidade, e neste ano o espaço foi ampliado. Lá, estão concentrados serviços como visitas guiadas para pessoas cegas e surdo-cegas, aluguel de cadeiras de rodas, vendas de audiolivros, audiofilmes e livros em braile, além da realização de Colóquios da Inclusão, com conversas sobre cultura, esporte e trabalho. O Sesi também realizará a Jornada Inclusiva nos dias 7, 8 e 9 de novembro, com um túnel sensorial voltado para todos os públicos.

“Quando tu divulgas que tem esse serviço, é impressionante. Temos um número enorme de escolas especiais, várias contações de histórias agendadas para turmas com crianças especiais”, relata Sônia Zanchetta, responsável pela área Infantil e pelas iniciativas de acessibilidade. A Estação terá atividades todos os dias da Feira e é desenvolvida por entidades como a Desenvolver, a AACD e a Associação Gaúcha de Pais e Amigos de Surdo-Cegos e Multideficientes (Agapasm).

Para auxiliar a Comissão Organizadora no desenvolvimento de atividades específicas para pessoas com deficiência, foi criado o Comitê de Voluntários pela Acessibilidade, que é integrado por: Confraria das Letras em Braile, Serviço Social da Indústria – SESI/RS, Desenvolver Assessoria em Inclusão de Pessoas com Deficiência, Associação de Assistência à Criança Deficiente – AACD, Mil Palavras Acessibilidade Cultural, Secretaria Municipal de Acessibilidade e Inclusão Social e Agapasm.

Muitas das ações de acessibilidade são voltadas para crianças e jovens. Na área Infantil e Juvenil, o chão de paralelepípedo foi coberto com um tablado de madeira para possibilitar a locomoção de pessoas com mobilidade reduzida ou em cadeira de rodas. A iniciativa aconteceu pela primeira vez em 2011 e 2012, mas no ano passado, com a necessidade de mudar o local do Cais Mauá para a Avenida Sepúlvida, não foi possível colocar o tablado, o que nesta edição foi novamente possibilitado. “Ano passado teve muita reclamação. Houve um caso de uma família de duas meninas com problema neurológico grave que ao passar pelo paralelepípedo a cadeira trepidou no chão e elas gritaram, não entendiam o que estava acontecendo”, lamentou Sônia.

Para possibilitar também o acesso de pessoas cadeirantes, no regulamento constava que os saldos fossem rebaixados a 90cm. Para as bancas havia uma recomendação de fazer o mesmo, mas nem todas seguiram. Essa é uma das críticas de Liza Cenci, cadeirante e coordenadora do Movimento SuperAção: “A gente não consegue olhar os livros, e todo o chão da Praça da Alfândega é pouco acessível e esburacado”, avaliou. Ela também observou a falta de rampas e de piso tátil para pessoas cegas e grande quantidade de obstáculos em que elas poderiam tropeçar.

As pessoas cegas podem, para facilitar sua locomoção, agendar as visitas guiadas, que duram 40 minutos e passam pelos principais pontos da Feira, além dos locais onde desejarem comprar livros. “O cego vem às vezes para alguma atividade mas não entende como é o recinto da Feira. Existe demanda para todos esses serviços, a gente às vezes não se dá conta quantas pessoas poderia aproveitar melhor esse lazer”, contou Sônia.

Superando as barreiras de comunicação
Uma das pessoas que trabalha na Estação da Acessibilidade é o escritor especialista em Educação Especial Alex Garcia, que é ele mesmo surdo-cego e presidente da Agapasm. Quando era criança, uma professora da escola percebeu sua dificuldade para enxergar e escutar, realidade que foi piorando ao longo dos anos. Atualmente, ele é totalmente surdo e tem cerca de 5% de visão em um olho.

Apesar de todas as dificuldades físicas, Alex já viajou para mais de 30 países, onde dá palestras e auxilia pessoas com múltiplas deficiências a superarem os obstáculos. “Existem muitas pessoas surdocegas, mas elas estão em casa. É a deficiência mais invisível que existe, pois como implica muito a comunicação, pessoas tendem a se fechar. E eu remei ao contrário”, conta. Alex se comunica de duas formas: através de um computador adaptado, onde sua limitada visão permite ler o que está escrito, ou a partir de uma tática de escrita na mão, em que o interlocutor “desenha” com o dedo as letras em sua mão, formando palavras.

Apesar de morar em São Luís Gonzaga, cidade que fica a cerca de sete horas de Porto Alegre de ônibus, Alex vem a todas as Feiras do Livro desde 2008, quando se começou a ter preocupação com a inclusão. Ele se locomove de ônibus sozinho e, da mesma forma, viaja de avião para o exterior e para outros estados. “Eu chego no aeroporto, aí eu vejo vultos, sombras, que são pessoas. Aí a pessoa se aproxima de mim e eu peço para chamar um segurança. Aí o segurança vem e eu digo ‘olá, sou uma pessoa surdo-cega, eu me comunico assim’ e explico”, relata, dizendo que durante as viagens prefere dormir.

Alex é autor dos livros “Além de existir devemos ser”, em que fala sobre a vida com a surdocegueira, e “A Grande Revolução”, uma história infantil que conta a história de um super-herói com a mesma deficiência. Ele dá algumas dicas para pessoas surdocegas conseguirem superar as dificuldades: “O primeiro passo é se conhecer, o segundo é controlar as emoções e o terceiro é planejar. O quarto passo orientar, por mais que eu tenha habilidades, sempre vou precisar de alguém, já aprendi a orientar as pessoas”, afirma.

Ele conta, orgulhoso, que foi uma das pessoas que fez com que a Feira do Livro passasse a se preocupar com as questões de inclusão e acessibilidade. “Eu abri a porta da inclusão da Feira e a Sônia apostou nisso, e daí chegou no que temos hoje”, relata, brincando que espera que haja uma homenagem para ele este ano, no aniversário de 60 anos do evento.

Serviço
A Estação fica localizada entre o Margs e o Banrisul, na Praça da Alfândega, durante todo o funcionamento da Feira. Todos os livros disponíveis em braile e áudio estão concentrados lá, onde também é feito o agendamento das visitas guiadas. Para agendar, é preciso mandar um e-mail para para visitaguiada@desenvolver-rs.org ou ir até a Estação marcar um horário.

Fonte: Sul21

Acesse o Portal de Acessibilidade do RS:www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br

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