11 de fev. de 2019

LESÃO MEDULAR e a falta de informação na vida de uma pessoa após o trauma.

Ilustração de como é a medula e com um trauma.

Este ano eu completo 19 anos sem andar, após sofrer uma  lesão medular por arma de fogo na altura da T2 e T1.
Esta lesão atingiu as vértebras do tórax que é formada por 11 vértebras sendo a maior da coluna vertebral, minha lesão medular atingiu os membros inferiores e do tronco.
Esta lesão causou perda da sensibilidade abaixo dos mamilos, no meu caso depois de alguns anos eu adquiri sensibilidade na altura das costela que antes não tinha.
Lesão esta muito alta e que trás várias limitações no corpo e no nosso dia a dia, mas quando tudo aconteceu como já narrado por aqui, eu não sabia de nada do que sei hoje, apenas que não voltaria mais andar.
A falta de informação foi fator de muitos episódios horríveis na minha vida, somente depois de dois anos pude entender tudo que tinha acontecido comigo e aprender a viver sobre rodas.
Esta semana fui no posto de saúde e chegando lá vi um rapaz cadeirante esperando na entrada, eu parei quase ao lado dele e fiquei também esperando.
A enfermeira se aproximou de nós e falou para ele, que ele teria que ter uma cadeira motorizada, e que seria ótimo para ele.
Na hora ele disse que não e que tinha os braços bem fortes para empurrar sua cadeira, coisa de homem, talvez, mas me meti no assunto e questionei o por que eu estava usando uma cadeira motorizada.
Relatei ter empurrado uma cadeira manual por quinze longos anos da minha vida e que isso foi fator para que eu começasse a desenvolver outras complicações pelo fato de usar uma cadeira manual e fazer tanta força.
Disse ter tido sorte de ganhar aquela cadeira pois minha lesão não me contempla para ganhar uma cadeira motorizada pelo SUS.
Fui conversando com ele e com sua esposa, explicando algumas coisas que eu sabia, perguntei se ele sabia a altura da lesão medular, se conhecia o Hospital Sarah Kubitschek, se fazia fisioterapia ou praticava esporte..
Diante de tantas perguntas, foram vindo as respostas de uma pessoa que ficou paraplégica e sem informação e conhecimento nenhum da sua realidade, até um ano e oito meses ele andava e hoje esta sobre uma cadeira de rodas.
Confesso que fiquei chocada com a falta de informação e conhecimento sobre sua condição física atual, uma escara gravíssima  com cirurgia recente, três cadeiras de rodas quebradas e nenhum conhecimento para ter uma qualidade de vida melhor.
Na mesma hora fui explicando algumas coisas importantes pra ele, orientando a fazer algum exercício além de empurrar a cadeira.
Deixo aqui que as lesões em mulheres e homens podem ser as mesmas mas as alterações de como o corpo vai responder após um trauma depende de cada corpo, temos especifidades diferentes.
Sua esposa preocupada só me dizia anota aqui neste papal estas coisas para eu pesquisar.
O tempo para nós foi pouco eu sei, mas acredito ter contribuído bastante para que ele possa ter uma vida com menos barreiras sociais e atitudinais.
Eu vim para casa pensativa e preocupada ao mesmo tempo, como pode depois de dezenove anos as pessoas ainda não terem um atendimento humanizado que nos oriente sobre nossa condição física, o quanto isso atrapalha qualquer possibilidade deste rapaz se fizer uma fisioterapia quem sabe andar, ter cuidado com seu corpo em relação as escaras e tantas outras coisas de uma pessoa cadeirante.
Nossa vida é alterada do dia para noite seja pelo motivo que for e mesmo assim não temos profissionais qualificados a nos orientar para facilitar o nosso próprio entendimento, o quanto nós mulheres e homens com deficiência somos ainda invisibilizados por esta sociedade,.
Essa invisibilidade causa danos sociais, psicológicos e físicos, mas quem esta preocupado com isso, é apenas mais uma pessoa a entrar para estatistificas de pessoa com deficiência no Brasil, diga-se de passagem mais de 45 milhões a viverem esse silenciamento.
Me questionei por horas pois hoje temos uma lei( Lei Brasileira de Inclusão ou LBI) que nos garante tantas coisas, tantos direitos, mas  na realidade ainda somos a tal minoria que ninguém olha e quando olha, o olhar é  de pena ou discriminação.
Essa sociedade tão capacitista que nos inferioriza é a mesma que nos nega o direito de acesso e informação.
Aqui escrevendo estas palavras fico ao mesmo tempo me questionando sobre o que posso fazer e como fazer pois o barulho que já faço não esta sendo o suficiente para acabar com a desigualdade entre as próprias pessoas, que agem como se fossemos os diferentes, mas sabemos que na realidade somos tão iguais na existência de ser e existir.
Que nada nos subestime pois enquanto eu estiver neste mundo dos desiguais farei barulho por mim e por todas e todos.
Só peço, me da licença que eu quero e vou passar!

Deixo um vídeo que explica o que é lesão medular.





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