1 de jun. de 2018

Josy, eu e muitas história para contar.

Eu e Josi, estamos na rua e seguramos a bandeira do partido.

Bom dia!

Sim hoje acordei com vontade de escrever, peguei o note coloquei na mesa, levantei minhas pernas na cadeira e estou tomando um café bem quentinho pois a inspiração chegou.
Tenho algumas coisas para compartilhar com vocês e fiquei pensando por qual começaria, então dedici contar uma história de amizade que já dura quase noves anos.
Então prepara o lenço, tá bom não farei vocês chorarem o texto todo, então preparem as gargalhadas desta linda história de envolve amizade, deficiência, vitórias e parceria.

Hoje venho contar um pouco da minha amizade com a Josy, nos conhecemos em 2010 no Projeto Rumo Norte, uma entidade voltada a oferecer cursos para pessoas com deficiência para sua qualificação profissional.
Lembro que sempre via a Josy transitar por lá sempre acompanhada de alguém, ela parecia uma pessoa triste e eu muitas vezes ficava a observando.
Até que começamos a conversar e assim fomos nos aproximando aos poucos uma da outra, tivemos uma afinidade de cara e aos poucos aquela imagem dela foi sumindo e ganhando espaço para uma mulher forte e guerreira, talvez aquela imagem tenha sido reflexo de sua própria vivencia enquanto mulher com deficiência, vítima da meningite na gravides do seu filho Rodrigo, foi aos poucos perdendo a visão, sempre lembro quando ela fala que ela conseguiu ver uma única vez seu filho e logo perdeu a visão.
A meningite a tornou uma mulher cega fazendo sua vida dar um giro de 360º graus, na época era casada, empresária viu sua vida se transformar da pior maneira, quando não nascemos com algum tipo de deficiência passamos pelo processo de readaptação de vida social e pessoal, a não aceitação se torna algo corriqueiro em nossas vidas.
Travamos com nós um martilho terrível onde nos passam muitas coisas, a família passa por isso também por não saber como ajudar, nos isolamos em um mundo só nosso onde não permitimos que ninguém sinta nossa dor e claro com a Josy também foi assim.
Depois de dois anos cega viu por conta desta deficiência seu casamento desabar resultando em uma separação que a causou mais um sofrimento, já não bastasse tudo que estava tendo que aceitar, agora teria mais a aceitação do fim do seu casamento com o homem que ela amava.
Por isso aquele jeito frágil e triste pois tudo ainda era muito recente em sua vida e estar naquele espaço era um novo desafio, ter que aprender a ler com as mãos, usar as novas tecnologias para se manter conectada com o mundo, tudo era desafiador e inovador, mas ela deu um primeiro passo que foi sair de casa mesmo  que acompanhada com alguém pois ainda não tinha sua independência de sair sozinha pois esta etapa é bem complicada para todas as mulheres com deficiência e avançar nesta liberdade é um processo longo.
Mas iniciava ali outras maneiras de adaptação com uma cadeirante e uma cega, juntas a gente queria poder fazer coisas que para mim também era difícil por ter que empurrar minha cadeira, algo que cansava e muito e Josy queria o mesmo sair por aí mundo a fora e então juntamos esta vontade.
Mas como faríamos isso, como eu já andava com o Hélio para cima e pra baixo já sabia como faríamos e essa dupla colocou as rodinhas para rodar.
As primeiras vezes foi bem complicado, eu ficava com muita dor nos braços por ter que travar a cadeira em obstáculos e até ela entender os sinais que eu dava nas rodas da minha cadeira foi terrível, quase cai muitas vezes para frente por travar a roda em algo que eu não via pois minha tensão era muita de ter que observar tudo e ao meu redor com  muita conversa e risadas e claro dava MERDA. As dores no corpo eram conjuntas, doía nela e em mim, mas aos poucos ela foi aprendendo os meus sinais na roda e quando percebemos já estávamos craque, as pessoas nos viam para cima e para baixo e ficavam apavoradas de como uma cega e uma cadeirante conseguiam andar juntas.
Diziam que parecíamos irmãs por sermos tão parecidas pois eu na época era magrinha e cabeluda, hoje até dizem sermos parecidas, mas estou com mais corpo e já não sou mais cabeluda pois cortei a juba.
Nossa amizade se fortaleceu e muito com todas as nossas proezas e Josy foi aprendendo muitas coisas e retomando sua vida normal, começou a namorar, a sair, passear e ter sua vaidade de volta, talvez esse tempo tenho sido necessário para poder a voltar a viver a vida com um novo olhar e o seu primeiro passo foi a ACEITAÇÃO pessoal.
Em 2012 foi um ano bem especial para nós duas, Josy foi conquistando amizades por onde passava e em meio a época de eleição foi convidada a se candidatar a vereadora de Porto Alegre pelo partido do PRTB, ela aceitou o convite mesmo sem saber nada de política.
Iniciava ai mais um desafio para nós duas pois eu também não sabia nada de política, até porque não somos educadas para saber de política por sermos mulheres e ainda a minoria neste espaço, mas como as coisas estavam mudando e uma delas foi a conquista de termos um percentual de mulheres candidatas em cada eleição por conquista dos movimentos de mulheres, abria ai um espaço político para uma mulher com deficiência visual, se formos analisar o hoje temos duas mulheres com deficiência na câmara de deputados e aqui em Porto Alegre nenhuma mulher com deficiência nestes espaços.
Estávamos sendo desafiadas a mudar esta realidade, eu fui convidada a ser sua assessora mal sabia eu o que era isso, mas como sempre busco pelo conhecimento fui estudar a fundo o que fazia uma assessora, juntas fomos construindo sua campanha, com a frase: Josiane França é candidata do povo, ouvir e presenciar é dar voz a quem precisa de verdade, lembro de elaboramos suas propostas de campanhas, blog, canal no Youtube, Twitter e Facebook usávamos todos os meios de comunicação pois sempre vi a necessidade de  nos comunicarmos com o mundo.
Juntas íamos em reuniões, debates, manifestações e planejávamos mais e mais seu trabalho como candidata, era um novo mundo se abrindo para nós duas, era cansativo pois eu ficava muitas horas na cadeira e estava estudando a noite, e havia pouco tempo que tinha me recuperado de uma escara terrível, mas seguimos por que acreditávamos muito neste trabalho.
Mas nossa imaturidade pois eu via este processo de uma maneira diferente da Josy e começamos a pensar diferente, eu queria ir para a esquerda e ela para direita, o que foi o separador para nos afastarmos, segui sua campanha mesmo sozinha pois queria muito que ela conseguisse ser eleita e com os materiais que eu tinha ia aos lugares e distribuía.

Ela não conseguiu ser eleita fazendo poucos votos, foi um desafio para nos duas pois juntas íamos a todos os lugares possíveis e um que sempre damos muitas risadas e aprendemos muito, lembro como foi nossa visita ao bairro Cristal, fomos lá pedir apoio da comunidade e como me criei por lá tinha amigas e iriamos pedir apoio.
Nesta visita onde passávamos de casa em casa entregando o seu material de campanha e apresentando seu trabalho conhecemos o senhor Jose um catador que no momento nos relatou sua dificuldade em conseguir o benefício de sua filha de 15 anos com autismo.
Já tendo sido negado não sabia o que fazer, nos olhamos e dissemos que iriamos ajuda-lo mesmo sem saber o que fazer mas com a certeza que precisávamos ajudar, depois da recepção maravilhosa que tivemos por lá dos moradores fomos pra casa exausta, mas com um desafio de ajuda-lo, eu fui para internet buscar entender o que estava acontecendo e onde procurar ajuda e olhem a coincidência da vida, nos precisamos buscar por ajuda no CRAS do Cristal, digo coincidência pois hoje estudo serviço social.
Marcamos com seu José  e lá foi a dupla ao chegarmos como eu já conhecia aquele lugar comentei com o Josy que teríamos que subir uma lomba que nem ela me empurrando a gente não conseguiria chegar lá, o seu José apavorado como que vamos chegar lá e nós mais ainda, vimos uma Kombi bem no lugar que eu precisava descer atrapalhando o caminho e gritamos por conta do barulho para os funcionários que estavam arrumando o asfalto e eles vieram e tiraram a Kombi do lugar e ai começamos a falar, sim somos duas tagarelas e começamos a explicar que precisamos subir aquela lomba para ajudar seu José mas não tínhamos como e a conversa foi que quando percebemos eu já estava dentro da Kombi indo até o local, hoje rimos desta história de como conseguimos fazer tanta coisa e ter pessoas maravilhosas nos apoiando, conseguimos ajudar o seu José que só precisava de alguém que pudesse lhe ouvir e com ele deixamos o nosso melhor e bem orientado pelas Assistentes Sociais.
Depois de nosso afastamento seguimos nossas vidas eu carreguei comigo e certeza de minha dedicação, tanto na nossa amizade e neste trabalho.
Em seguida engravidei do Roberth e infelizmente não pude tê-la do meu lado neste momento mais lindo da minha vida, sentia sua falta e das coisas que juntas fazíamos, mas precisávamos deste tempo para nós.
Um certo dia lembro de receber uma mensagem dela com alguns dizeres, dei retorno e o destino nos fez nos encontrarmos no Seminário de Políticas Públicas para as Mulheres com Deficiência, mal nos falamos e dai as coisas foram acontecendo naturalmente no seu tempo de ser.
Foi quando vi uma postagem de sua mãe no Face dizendo que ela estava no hospital, na hora fiquei apavorada e preocupada e fiz contato com ela e assim pude ir acompanhando de longe o que se passava. Respeitando nosso tempo e certa de que tudo que é verdadeiro permanece.
Eu já iniciava o trabalho do Grupo Inclusivass e Josy teve que ficar afastada por conta da cirurgia no pé e retomou sua participação no grupo depois que melhorou.
As poucos fomos nos falando mas nunca conversamos sobre o que nos aconteceu até porque penso não ser necessário pois sabemos nossos erros e juntas novamente fomos retomando nossa amizade, agora porém mais maduras e com certeza desta amizade ser verdadeira.
Nos permitimos a seguir e recomeçarmos de onde paramos, hoje somos Inclusivass e estamos aprendendo muito com nosso trabalho, levamos nossa voz a muitos lugares e construímos um trabalho tão importante para as mulheres com deficiência.
Josy hoje atua como modelo profissional quebrando tabus e estereótipos, a primeira mulher cega a ser modelo e desfilar, encontra muita dificuldade no mercado de trabalho por conta do próprio preconceito, mas segue com um único objetivo de vencer as passarelas da vida, já foi Miss do Carnaval, essa muiê já sambou na cara da sociedade mostrando que mesmo sem ver consegue sambar em um salto de plataforma de 15 centímetro e com sorriso largo, sua marca.
Militante atua em vários movimentos de mulheres sempre levando a voz das mulheres com deficiência, nos duas seguimos nesta caminhada porque acreditamos em nosso trabalho e para finalizar como diz ela: ESTA TUDO SOBRE CONTROLE! 
Lembro desta reaproximação da primeira vez que meu filme foi exibido na Faculdade Est juntas neste momento  choramos muito pois ali contava a minha história de vida e mesmo que não mostrando estava um pouco de nossa história e toda vez que ela assiste ao filme CAROL as lágrimas rolam e ela sempre avisa no começo ou final que vai ter lágrimas.
Essa Josy!
Josy hoje atua como modelo profissional quebrando tabus e estereótipos, a primeira mulher cega a ser modelo e desfilar, encontra muita dificuldade no mercado de trabalho por conta do próprio preconceito, mas segue com um único objetivo de vencer as passarelas da vida, já foi Miss do Carnaval, essa muiê já sambou na cara da sociedade mostrando que mesmo sem ver consegue sambar em um salto de plataforma de 15 centímetro e com sorriso largo, sua marca.
Este é seu vídeo de trabalho realizado em parceria com o querido Dudu Vanoni e a primeira vez que assisti me emocionei e muita pois só mente nós mulheres com deficiência sabemos o quanto é difícil vencer um objetivo nesta vida tão dominada pelo CAPACITISMO da sociedade.
Descrição do vídeo:
Josi em muitos momentos é vista sendo maquiada por uma mulher, coloca varias roupas diferentes e bijuterias, pousa em vários cenários diferentes para as fotos, Dudu a observa e ri. Josi sorri em muitos momentos. O vídeo é finalizado mostrando Josi caminhando com seu professor Henrique Leques e ela usa sua bengala pois o vídeo todo não percebemos que ela é cega, deixando claro que a deficiência não nos limita.
Créditos no fim do vídeo e se ouve uma música ao longo do vídeo.

EMOCIONE-SE com este vídeo maravilhoso.



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Saudações Feministas.

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