Eu e Josi, estamos na rua e seguramos a bandeira do partido. |
Bom dia!
Sim hoje acordei com vontade de escrever, peguei o note
coloquei na mesa, levantei minhas pernas na cadeira e estou tomando um café bem
quentinho pois a inspiração chegou.
Tenho algumas coisas para compartilhar com vocês e fiquei
pensando por qual começaria, então dedici contar uma história de amizade que já
dura quase noves anos.
Então prepara o lenço, tá bom não farei vocês chorarem o
texto todo, então preparem as gargalhadas desta linda história de envolve
amizade, deficiência, vitórias e parceria.
Hoje venho contar um pouco da minha amizade com a Josy, nos
conhecemos em 2010 no Projeto Rumo Norte, uma entidade voltada a oferecer
cursos para pessoas com deficiência para sua qualificação profissional.
Lembro que sempre via a Josy transitar por lá sempre
acompanhada de alguém, ela parecia uma pessoa triste e eu muitas vezes ficava a
observando.
Até que começamos a conversar e assim fomos nos aproximando
aos poucos uma da outra, tivemos uma afinidade de cara e aos poucos aquela
imagem dela foi sumindo e ganhando espaço para uma mulher forte e guerreira, talvez
aquela imagem tenha sido reflexo de sua própria vivencia enquanto mulher com
deficiência, vítima da meningite na gravides do seu filho Rodrigo, foi aos
poucos perdendo a visão, sempre lembro quando ela fala que ela conseguiu ver
uma única vez seu filho e logo perdeu a visão.
A meningite a tornou uma mulher cega fazendo sua vida dar um
giro de 360º graus, na época era casada, empresária viu sua vida se transformar
da pior maneira, quando não nascemos com algum tipo de deficiência passamos
pelo processo de readaptação de vida social e pessoal, a não aceitação se torna
algo corriqueiro em nossas vidas.
Travamos com nós um martilho terrível onde nos passam muitas
coisas, a família passa por isso também por não saber como ajudar, nos isolamos
em um mundo só nosso onde não permitimos que ninguém sinta nossa dor e claro
com a Josy também foi assim.
Depois de dois anos cega viu por conta desta deficiência seu
casamento desabar resultando em uma separação que a causou mais um sofrimento,
já não bastasse tudo que estava tendo que aceitar, agora teria mais a aceitação
do fim do seu casamento com o homem que ela amava.
Por isso aquele jeito frágil e triste pois tudo ainda era
muito recente em sua vida e estar naquele espaço era um novo desafio, ter que
aprender a ler com as mãos, usar as novas tecnologias para se manter conectada
com o mundo, tudo era desafiador e inovador, mas ela deu um primeiro passo que
foi sair de casa mesmo que acompanhada
com alguém pois ainda não tinha sua independência de sair sozinha pois esta
etapa é bem complicada para todas as mulheres com deficiência e avançar nesta
liberdade é um processo longo.
Mas iniciava ali outras maneiras de adaptação com uma
cadeirante e uma cega, juntas a gente queria poder fazer coisas que para mim
também era difícil por ter que empurrar minha cadeira, algo que cansava e muito
e Josy queria o mesmo sair por aí mundo a fora e então juntamos esta vontade.
Mas como faríamos isso, como eu já andava com o Hélio para
cima e pra baixo já sabia como faríamos e essa dupla colocou as rodinhas para
rodar.
As primeiras vezes foi bem complicado, eu ficava com muita
dor nos braços por ter que travar a cadeira em obstáculos e até ela entender os
sinais que eu dava nas rodas da minha cadeira foi terrível, quase cai muitas
vezes para frente por travar a roda em algo que eu não via pois minha tensão
era muita de ter que observar tudo e ao meu redor com muita conversa e risadas e claro dava MERDA.
As dores no corpo eram conjuntas, doía nela e em mim, mas aos poucos ela foi
aprendendo os meus sinais na roda e quando percebemos já estávamos craque, as
pessoas nos viam para cima e para baixo e ficavam apavoradas de como uma cega e
uma cadeirante conseguiam andar juntas.
Diziam que parecíamos irmãs por sermos tão parecidas pois eu
na época era magrinha e cabeluda, hoje até dizem sermos parecidas, mas estou
com mais corpo e já não sou mais cabeluda pois cortei a juba.
Nossa amizade se fortaleceu e muito com todas as nossas
proezas e Josy foi aprendendo muitas coisas e retomando sua vida normal,
começou a namorar, a sair, passear e ter sua vaidade de volta, talvez esse
tempo tenho sido necessário para poder a voltar a viver a vida com um novo
olhar e o seu primeiro passo foi a ACEITAÇÃO pessoal.
Em 2012 foi um ano bem especial para nós duas, Josy foi
conquistando amizades por onde passava e em meio a época de eleição foi
convidada a se candidatar a vereadora de Porto Alegre pelo partido do PRTB, ela
aceitou o convite mesmo sem saber nada de política.
Iniciava ai mais um desafio para nós duas pois eu também não
sabia nada de política, até porque não somos educadas para saber de política
por sermos mulheres e ainda a minoria neste espaço, mas como as coisas
estavam mudando e uma delas foi a conquista de termos um percentual de mulheres
candidatas em cada eleição por conquista dos movimentos de mulheres, abria ai
um espaço político para uma mulher com deficiência visual, se formos analisar o
hoje temos duas mulheres com deficiência na câmara de deputados e aqui em Porto
Alegre nenhuma mulher com deficiência nestes espaços.
Estávamos sendo desafiadas a mudar esta realidade, eu fui
convidada a ser sua assessora mal sabia eu o que era isso, mas como sempre busco
pelo conhecimento fui estudar a fundo o que fazia uma assessora, juntas fomos
construindo sua campanha, com a frase: Josiane França é candidata do povo,
ouvir e presenciar é dar voz a quem precisa de verdade, lembro de elaboramos
suas propostas de campanhas, blog, canal no Youtube, Twitter e Facebook
usávamos todos os meios de comunicação pois sempre vi a necessidade de nos comunicarmos com o mundo.
Juntas íamos em reuniões, debates, manifestações e
planejávamos mais e mais seu trabalho como candidata, era um novo mundo se
abrindo para nós duas, era cansativo pois eu ficava muitas horas na cadeira e
estava estudando a noite, e havia pouco tempo que tinha me recuperado de uma
escara terrível, mas seguimos por que acreditávamos muito neste trabalho.
Mas nossa imaturidade pois eu via este processo de uma
maneira diferente da Josy e começamos a pensar diferente, eu queria ir para a
esquerda e ela para direita, o que foi o separador para nos afastarmos, segui
sua campanha mesmo sozinha pois queria muito que ela conseguisse ser eleita e
com os materiais que eu tinha ia aos lugares e distribuía.
Ela não conseguiu ser eleita fazendo poucos votos, foi um
desafio para nos duas pois juntas íamos a todos os lugares possíveis e um que
sempre damos muitas risadas e aprendemos muito, lembro como foi nossa visita ao
bairro Cristal, fomos lá pedir apoio da comunidade e como me criei por lá tinha
amigas e iriamos pedir apoio.
Nesta visita onde passávamos de casa em casa entregando o
seu material de campanha e apresentando seu trabalho conhecemos o senhor Jose
um catador que no momento nos relatou sua dificuldade em conseguir o benefício
de sua filha de 15 anos com autismo.
Já tendo sido negado não sabia o que fazer, nos olhamos e
dissemos que iriamos ajuda-lo mesmo sem saber o que fazer mas com a certeza que
precisávamos ajudar, depois da recepção maravilhosa que tivemos por lá dos
moradores fomos pra casa exausta, mas com um desafio de ajuda-lo, eu fui para
internet buscar entender o que estava acontecendo e onde procurar ajuda e olhem
a coincidência da vida, nos precisamos buscar por ajuda no CRAS do Cristal, digo
coincidência pois hoje estudo serviço social.
Marcamos com seu José e lá foi a dupla ao chegarmos como eu já
conhecia aquele lugar comentei com o Josy que teríamos que subir uma lomba que
nem ela me empurrando a gente não conseguiria chegar lá, o seu José apavorado
como que vamos chegar lá e nós mais ainda, vimos uma Kombi bem no lugar que eu
precisava descer atrapalhando o caminho e gritamos por conta do barulho para os
funcionários que estavam arrumando o asfalto e eles vieram e tiraram a Kombi do
lugar e ai começamos a falar, sim somos duas tagarelas e começamos a explicar
que precisamos subir aquela lomba para ajudar seu José mas não tínhamos como e
a conversa foi que quando percebemos eu já estava dentro da Kombi indo até o
local, hoje rimos desta história de como conseguimos fazer tanta coisa e ter
pessoas maravilhosas nos apoiando, conseguimos ajudar o seu José que só
precisava de alguém que pudesse lhe ouvir e com ele deixamos o nosso melhor e
bem orientado pelas Assistentes Sociais.
Depois de nosso afastamento seguimos nossas vidas eu
carreguei comigo e certeza de minha dedicação, tanto na nossa amizade e neste
trabalho.
Em seguida engravidei do Roberth e infelizmente não pude
tê-la do meu lado neste momento mais lindo da minha vida, sentia sua falta e
das coisas que juntas fazíamos, mas precisávamos deste tempo para nós.
Um certo dia lembro de receber uma mensagem dela com alguns
dizeres, dei retorno e o destino nos fez nos encontrarmos no Seminário de Políticas
Públicas para as Mulheres com Deficiência, mal nos falamos e dai as coisas foram
acontecendo naturalmente no seu tempo de ser.
Foi quando vi uma postagem de sua mãe no Face dizendo que ela
estava no hospital, na hora fiquei apavorada e preocupada e fiz contato com ela
e assim pude ir acompanhando de longe o que se passava. Respeitando nosso tempo
e certa de que tudo que é verdadeiro permanece.
Eu já iniciava o trabalho do Grupo Inclusivass e Josy teve
que ficar afastada por conta da cirurgia no pé e retomou sua participação no
grupo depois que melhorou.
As poucos fomos nos falando mas nunca conversamos sobre o
que nos aconteceu até porque penso não ser necessário pois sabemos nossos erros
e juntas novamente fomos retomando nossa amizade, agora porém mais maduras e
com certeza desta amizade ser verdadeira.
Nos permitimos a seguir e recomeçarmos de onde paramos, hoje
somos Inclusivass e estamos aprendendo muito com nosso trabalho, levamos nossa
voz a muitos lugares e construímos um trabalho tão importante para as mulheres
com deficiência.
Josy hoje atua como modelo profissional quebrando tabus e estereótipos,
a primeira mulher cega a ser modelo e desfilar, encontra muita dificuldade no
mercado de trabalho por conta do próprio preconceito, mas segue com um único
objetivo de vencer as passarelas da vida, já foi Miss do Carnaval, essa muiê já
sambou na cara da sociedade mostrando que mesmo sem ver consegue sambar em um salto
de plataforma de 15 centímetro e com sorriso largo, sua marca.
Militante atua em vários movimentos de mulheres sempre
levando a voz das mulheres com deficiência, nos duas seguimos nesta caminhada
porque acreditamos em nosso trabalho e para finalizar como diz ela: ESTA TUDO
SOBRE CONTROLE!
Lembro desta reaproximação da primeira vez que meu filme foi exibido na Faculdade Est juntas neste momento choramos muito pois ali contava a minha história de vida e mesmo que não mostrando estava um pouco de nossa história e toda vez que ela assiste ao filme CAROL as lágrimas rolam e ela sempre avisa no começo ou final que vai ter lágrimas.
Essa Josy!
Josy hoje atua como modelo profissional quebrando tabus e estereótipos,
a primeira mulher cega a ser modelo e desfilar, encontra muita dificuldade no
mercado de trabalho por conta do próprio preconceito, mas segue com um único
objetivo de vencer as passarelas da vida, já foi Miss do Carnaval, essa muiê já
sambou na cara da sociedade mostrando que mesmo sem ver consegue sambar em um salto
de plataforma de 15 centímetro e com sorriso largo, sua marca.
Este é seu vídeo de trabalho realizado em parceria com o
querido Dudu Vanoni e a primeira vez que assisti me emocionei e muita pois só mente nós mulheres com deficiência sabemos o quanto é difícil vencer um objetivo nesta vida tão dominada pelo CAPACITISMO da sociedade.
Descrição do vídeo:
Josi em muitos momentos é vista sendo maquiada por uma mulher, coloca varias roupas diferentes e bijuterias, pousa em vários cenários diferentes para as fotos, Dudu a observa e ri. Josi sorri em muitos momentos. O vídeo é finalizado mostrando Josi caminhando com seu professor Henrique Leques e ela usa sua bengala pois o vídeo todo não percebemos que ela é cega, deixando claro que a deficiência não nos limita.
Créditos no fim do vídeo e se ouve uma música ao longo do vídeo.
EMOCIONE-SE com este vídeo maravilhoso.
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