12 de mai. de 2015

Violência Obstétrica- Relato de uma mãe cadeirante.

No Brasil, 1 em cada 4 mulheres sofre algum tipo de violência durante o atendimento ao parto.
É mais comum do que costumamos imaginar é como se elas estivessem representadas em vermelho neste texto.


A violência obstétrica implica em violações de direitos humanos, como o direito a integridade corporal, à autonomia, a não discriminação, à saúde e a garantia do direito aos benefícios do progresso científico e tecnológico. A necessidade de informação e formação das mulheres é a forma existente para prevenir e erradicar a violência obstétrica.

uma em cada quatro mulheres (25%) relatou ter sofrido algum tipo de violência na hora do parto. Dentre as diversas formas possíveis de abusos e maus-tratos, tiveram destaque: exame de toque doloroso, recusa para alívio da dor, não explicação de procedimentos adotados, gritos de profissionais ao ser atendida, negativa de atendimento, xingamentos e humilhações.

Assim que começo meu texto.

Hoje mais atenta aos meus direitos por estar estudando muito e atuando como uma mulher que esta em busca do empoderamento das mulheres posso disser que já me peguei por muitas vezes pensando isso que aconteceu comigo é considerado crime.
Estudei muito antes de tomar a iniciativa de escrever este texto relatando toda violência que sofri durante a gestação, no parto e depois.

Após me tornar gestante e ter passado por tantas coisas das quais hoje percebo um esclarecimento de tudo que passei mas tudo isso pela falta de conhecimento neste momento posso confirmar com todas as letras que sofri violência obstétrica, mas o que é isso finalmente, vamos lá:

• Jejum forçado;
• Isolar a mulher e não permitir acompanhante;
• Restringir a gestante ao leito, para que não se movimente;
• Amarrar a mulher à cama;
• Utilizar meios farmacológicos sem autorização;
• Induzir o parto;
• Episiotomia (corte entre a vagina e o ânus para facilitar a passagem do bebê);
• Manobra de kristeller (quando a barriga é empurrada por enfermeiras);
• Não deixar que a mulher grite ou converse;
• Agressões e humilhações verbais: “Se você não me obedecer, saio daqui e você vai ter o bebê sozinha”; “Na hora de fazer, não doeu”; “Se você não ajudar, seu bebê vai morrer”.

Depois de ter conhecimento vivenciado estes tipos de violência volto ao meu pré natal no momento onde o médico do posto disse não ter condições de me acompanhar por eu ser cadeirante e não ter experiência na área, como assim não ter conhecimento mas esta foi a realidade e assim fui dispensada e lá fui eu peregrinar em busca de um atendimento humanizado que pudesse me dar a atenção á todas minhas dúvidas e assim iniciei meu pré natal no Hospital de Clinicas cheia de esperança queria me sentir segura e principalmente saber mais sobre a minha gravides os riscos por se tratar de uma gravides de alto risco.
Minha primeira consulta do pré natal entrei na sala e fui atendida por dois profissionais residentes, me fizeram perguntas sobre minha saúde mas em momento algum esclareceram minhas dúvidas e medos vi minha expectativa sobre isso acabarem no momento onde me colocaram deitada naquela maca e dizerem ser necessário fazer o exame do toque até ai tudo bem até o momento onde mais de um profissional me tocou e não satisfeito chamaram o professor fiquei apavorada por ser tocada por 3 pessoas diferentes naquela hora me senti uma cobaia na mão de inexperientes, sai da sala pensativa e me perguntando se seria normal e um mês depois voltei novamente para a segunda consulta ao entrar na sala outro médico diferente em silêncio me questionei: como será meu pré natal em um hospital escola será sempre um rosto diferente a me atender e assim segui até o fim cada consulta a dificuldade em ser carregada para ficar na maca para realizar o exame de toque, pois não existe aparelhos adaptados que nos deem mais autonomia ficando eu vulnerável a profissionais sem experiência em como me carregar, era um martírio o medo de me machucar e prejudicar meu filho era horrivel já em outros momentos eu precisava relatar toda a consulta anterior, no meio de toda esta falta de sensibilidade também me deparava com a falta de informação de que poderia ser prejudicial a minha saúde por ter uma lesão na medula e algumas limitações, as infecções urinárias eram constantes e remédios e mais remédios com a única informação que com isso poderia perder meu filho era torturando mas tive que lidar com mais esta falta de cuidado, tudo que eu queria era poder conversar com alguma mãe cadeirante que já tivesse passado pelo que eu estava passando e pedir orientação mas não consegui.

A ego morfológica só veio quando eu já estava com 4 meses porque perguntei para o médico que me atendeu naquele dia se eu não iria saber o sexo do bebe ele me olhou e perguntou se eu já não sabia o que era e assim marcaram o exame e eu e meu companheiro aflitos para saber o sexo esperamos por horas para ser atendida e quando a médica já estava indo embora eu perguntei pra mesma a senhora não vai me atender e ela mas eu desmarquei teu exame não te avisaram espera um pouco que vou
ter que te atender já que esta aqui com toda essa demora tive que ficar sozinha pois o pai tinha compromisso e não podia ficar pedi pra mesma pra ligar pra ele e ouvir tudo mas ela disse que não poderia fazer isso e assim sozinha pela falta de competência dos profissionais tive a resposta que esperava um menino imaginem minha felicidade em saber que ele estava bem naquele momento esqueci as horas que fiquemos esperando e logo liguei pro pai pra contar nossa emoção foi tamanho que faltou voz.

Segui meu pré natal vivendo a triste realidade de quem vai me atender hoje e o vinculo entre médico e paciente onde ficava no momento mais lindo da minha vida eu tinha que lidar com esta falta de sensibilidade da equipe do hospital sem falar que eu vi o rosto dos professores duas vezes e uma delas foi quando me disserem que eu poderia ter parto normal o que me deixou feliz não queria fazer cesária e sim poder ter condições de ter meu filho de uma maneira humanizada, ao longo de tudo conheci uma doula que se ofereceu a me acompanhar até o parto e com ela aprendi muito me ensinou coisas que os médicos deveriam me dizer, participou de algumas consultas, juntas elaboramos meu plano de parto e aprendemos muito uma com a outra foi incrível este momento pois me sentia segura ao lado dela e contava pra ela tudo que passava em cada consulta, nos últimos meses depois de curar minha infeção urinária com o suco de Grawbery que só descobri pela internet fiquei durante 7 meses a base de remédios, nos último mês comecei a ter muita dor de cabeça, estava com 15 quilos á mais relatei mas não me falaram nada pensei que seria normal por causa do cansaço da gravides e ia de 15//15 para consultar.

Na última consulta estava com muita dor acharam que já era a hora mas não o medo era as contrações que se iniciram 6 meses e ele poderia vir a qualquer momento.

Finalmente o dia tão esperado por nós chegou eu já estava sofrendo muito nos últimos meses e estava louca para ter nosso garoto nos braços, fui de ambulância para o hospital com meu plano de parto e quando o médico verificou minha pressão pediu que o motorista acelerasse pois minha pressão estava alta demais mas eu me sentia tão bem, ria e brincava

Ao chegar no hospital foram passadas as informações e me encaminharam para a pré sala de parto mas nós queríamos que o Hélio tivesse todas as informações passadas pra ele naquele momento tão esperado e colocamos nossa vontade para a equipe que aceitou que a nossa doula nos acompanhasse neste momento, entreguei meu plano de parto e dai em diante os erros foram acontecendo, me falaram que eu teria que raspar um pouco dos pelos pubianos o que eu não queria, depois a médica me explicou que teria que aplicar o Sulfato de Magnésio que ajudaria a baixar minha pressão o que colocaria eu e o bebe em risco, mas não me explicaram os efeitos colaterais, de tempo em tempo entrava um médico diferente fazia o toque o que me incomodou muito o fato de ser tocada por vários médicos pois fui atendida por uma equipe e não só por um médico, colocaram aquele cinto que mostra os batimentos do bebe e pediram que eu não me mexesse para não perder o sinal dos batimentos tive que ficar imovel no começo tudo bem pois eu me sentia sobre controle de tudo mas as horas foram passando e nada da pressão baixar e as aplicações continuaram e depois de 7 horas de trabalho de parto e comecei a ter fortes dores de cabeça era uma dor que não dava nem pra gritar eu queria saber o porque eu estava daquele jeito perguntava para os médicos que deveriam ter as respostas mas eu não tinha e a toda hora entrava um e mexia em mim as horas foram passando o que era risos tinha se tornado em lágrimas e desespero do pai e da doula que não sabiam o que fazer e em nenhum momento os médicos falaram: ficam calmos faz parte do parto ou da resposta do corpo por causa da lesão medular, simplesmente ficou eu sofrendo com as dores fortes na cabeça já não aguentava mais, eu já não tinha mais controle do meu corpo e já não sentia mais as contrações que com as horas foram diminuindo e a preocupação foi de todas pois deveriam aumentar para ele nascer, lembro que em um momento um médico entrou na sala para ver como eu estava e pediu para o Hélio colocar a mão onde sentiu a cabecinha do nosso filho já no nascedor era só ele vir mas isso não acontecia de jeito nenhum.
Durante todas essas horas não pude me alimentar e nem tomar água de jeito nenhum.

Depois de 12 horas de trabalho de parto e bolsa rompida a equipe entrou as pressas e me disseram com todas as letras tu já esta em perigo e o bebe esta na hora dele vir nos fizemos de tudo para te ajudar agora é tudo ou nada e assim fomos para a sala de parto, cansada, com o rosto enxado de tanto chorar e sem forças pra nada a médica que fez meu parto me disse quando você achar que é contração faz força, me colocaram na posição e foi uma tentativa, duas e na terceira o que eu não queria aconteceu ela me cortou disse que era preciso se não ele não saia e era a última tentativa se não teria que fazer cesária e na terceira tentativa lembro que uma mulher se jogou em cima da minha barriga e finalmente ele veio, que alivio respirei fundo e meia tonta só lembro de terem me mostrado ele no qual eu enxerguei ele todo escuro não sei se era minha visão que estava distorcida mas não deixaram eu nem tocar ou chegar perto de mim e tiraram ele dos meus olhos, foi quando percebi que a sala estava cheia de médicos meu parto parecia uma atração o que era para ser algo natural foi algo de curiosidade dos médicos e residentes em ver uma mãe cadeirante ter um parto normal, enquanto eles davam banho acompanhado do pai e da doula eu fiquei na sala de pernas arregaçadas, sozinha sem saber o que estava acontecendo com meu filho até alguém vir fazer os pontos. era um entra e sai toda hora e eu ali daquele jeito esperando pelo meu filho que deveria ter tido contado comigo desde os primeiros minutos finalmente depois de muitos minutos veio nos braços do pai a emoção foi tanta que esquecemos de tirar fotos mas naquele momento que finalmente pude ter ele nos meus braços nos três nos abraçamos e juntos choramos pois foi um sofrimento que jamais vou esquecer e que se eu tivesse uma orientação médica melhor talvez não tivesse passado por nada.

Naquele dia tive que ficar em observação com o Roberth por causa da eclampsia e mesmo assim fiquei sem ele durante horas, fui para o quarto no dia seguinte até ai tudo bem, comecei a dar de mama pra ele mas via que ele chorava muito quando sugava meu peito o leite não queria descer só o colostro e isso não estava alimentando ele e chorava muito a enfermeira veio e falou comigo e disse que era normal no começo mas eu tinha que estimular a ele mamar e assim o fiz mas não estava adiantando o choro continuava pedi que fosse dado um complemento pra ele e de momento foi negado, as horas passaram e ele continuava a chorar e finalmente deram foi um alivio pra mim pois via que meu anjo estava com fome e eu não tinha leite pra dar pra ele, chorei, me culpei e elas vinham a toda hora e diziam tem que dar o peito como se eu não tivesse fazendo mas não adiantava o leite não descia e essa tortura psicológica durou os dias que fiquei no hospital.
Fomos pra casa e tentei e muito e nada e tivemos que iniciar o leite pó foi difícil par mim não ter o leite do peito pra ele pois eu sabia da importância e queria tanto amamentar ele queria esse contato com a gente mas não consegui talvez o tanto de coisas que aconteceram na gravides e na hora do parto podem ter estimulado a falta de leite. Foram meses tentando e ia sempre em busca constante em grupos de mães pedir ajudar para estimular o leite e com todas as tentativas sofria mais e mais por não ver do meu seio sair o leite para amamentar meu filho.
Fico a todo momento me questionando sem ter respostas.

Os dias passaram já estávamos em casa meu companheiro ficou com a gente os dias que ele tem por direito até que chegou o dia em que eu ficaria sozinha com ele, tivemos nossa primeira experiência sozinhos mas o moço era muito choram e queria mamar de hora em hora foi ai que eu comecei a passar pra cadeira cheia de pontos e não me dei conta que a cada vez que eu passava eu batia e isso foi me machucando comecei  ter muita dor naquela região mas até eu entender o que estava acontecendo foram dias até que não aguentei de dor e pedi para o pessoal do posto vir olhar meus pontos e me falaram que tinha mais de um ponto inflamado e que eu deveria evitar de passar para a cadeira mas como faria isso se precisava fazer o mama dele e assim segui dias e mais dias a cada vez que passava pra cadeira chorava de dor tudo por causa daquele corte que eu não queria pois sabia que isso poderia acontecer.
Os meses passaram até eu me curar totalmente mas mesmo assim fiquei com dor, todo movimento era dolorido, vi meu corpo se transformar por causa daquele corte, sofri muito com dor e até hoje sinto muita dor.
Só fui me dar  conta de todas essas reflexões sobre tudo que passei antes, durante e depois do parto depois de começar a ler, em alguns momentos vinha tudo na minha mente até eu finalmente entender que eu não tive um atendimento humanizado, que não tive minhas escolhas respeitadas e que fui na verdade uma cobaia na mão de médicos residentes e que por isso não pude viver com total sublime a emoção de uma gravides.
Hoje ao lembrar de tudo por meses tive que ter forças para entender tudo, aceitar que não tive um parto como eu havia planejado, me culpei e carrego comigo ainda essas lembranças.
Não fiz a denuncia por falta de conhecimento que tudo que passei nas mãos dos médicos que é considerado um crime contra minhas escolhas e contra o meu corpo.
Mesmo sendo um tema pouco conhecido pelas mulheres, ativistas lutam pela humanização do parto e foi este  encorajamento destas mulheres que me deu coragem de escrever minha história que teve inicio no momento em que um médico disse não poder me acompanhar mas como poderemos mudar essa realidade minha e de outras mães cadeirantes que também estão passando por tudo que passei.
Nos mulheres merecemos ter nossos direitos respeitados, merecemos parir com total respeito, precisamos humanizar o parto e os profissionais.
Finalizo este texto com a pergunta como podemos humanizar o atendimento a mulheres cadeirantes?
Por que nos mulheres temos que passar por este tipo de violência pode dizer que sou uma mulher que carrego comigo as marcas físicas e psicológicas do meu parto algo que era pra nos lembrarmos com carinho de poder viver este momento lindo entre mãe, pai e filho.

Um comentário:

  1. Que história linda mãe que vivencia sofrida.
    Parabéns ��

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Agradeço sua mensagem.
Saudações Feministas.

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