28 de mai. de 2013

História de vida de Dorina Nowill.

Dorina Nowill.


Em 28 de maio, nossa fundadora, Dona Dorina De Gouvêa Nowill faria 94 anos.
Dorina ficou cega aos 17 anos e, desde 1946, quando fundou com amigas a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, passou a trabalhar pelos deficientes visuais no país e fora dele. Em 1991, a fundação ganhou seu nome e hoje é referência em programas de inclusão, além de operar a imprensa braille que tem a maior produção da América Latina. 
''Quando perdi a visão, percebi que algo tinha se modificado. Nesse momento tão particular, simplesmente surgiu uma força interior que me impulsionou a encarar a própria vida ‘sem ver’ e a importância que dei a outras possibilidades foi muito maior que o desespero de ter perdido a visão. Eu tinha de enfrentar as situações como elas se apresentavam e todos esperavam a minha reação; nesse momento foram surgindo soluções de acordo com meu temperamento e com minhas aspirações. Hoje acredito que não perdi aspirações, apenas tive de modificá-las um pouco, até mesmo para mantê-las, mesmo dentro de situações para as quais não estava preparada integralmente'', contou ela em sua autobiografia lançada em 1996, ...E Eu Venci Assim Mesmo, em que conta em detalhes de como cuidou dos filhos, da casa, do casamento e de suas ações sociais ao mesmo tempo.

Nascida em 1919, filha de pai português e mãe italiana, Dorina cresceu na Rua Matias Aires, entre a Frei Caneca e a Augusta, região central de São Paulo, e foi matriculada no instituto Elvira Brandão onde foi contemporânea dos futuros atores Paulo Autran e Célia Biar. Empolgou-se com a revolução constitucionalista de 1932 participando da coleta de cigarros e sabonetes para os soldados. Frequentava o Clube Português e era uma menina comportada.

A aba bateu em seu olho direito
Em 16 de agosto de 1936 foi com a família à missa das 9h do Colégio São Luiz. Naquela manhã, uma amiga de sua mãe usava um chapéu de abas largas. Ao se despedirem, ela quis dar um beijo em Dorina e a aba bateu em seu olho direito. No dia seguinte de manhã, fechou o olho esquerdo e no outro surgiu uma mancha opaca, bem no centro da visão. A mácula havia sido afetada, não pelo choque, mas por uma razão clínica não traumática como descobriu depois.

O que se seguiu foram visitas a oftalmologistas, exames e mais exames, mas em 14 de outubro ''vi uma cortina de sangue e nada mais distingui. Era como se eu estivesse vendo uma vidraça com chuva escorrendo. Em vez de água, sangue''. Ela, então, soube que não mais poderia enxergar. Sua mãe pediu a Deus: ''Se Dorina não puder voltar a ver, que pelo menos se conforme, aceite e possa assim viver''.

De 1936 a 1943, Dorina viveu um processo de adaptação a seu novo modo de vida. Foi apresentada ao método braile de leitura e sua mãe pode comemorar o ''milagre da aceitação''. Naquele ano, 1943, ela conseguiu uma vitória inédita – ser aceita como aluna regular no Caetano de Campos, para o Curso Normal. Foi a primeira aluna cega a matricular-se em São Paulo numa escola comum de formação de professores. Ainda estudante, outra conquista foi quando a mesma escola implantou o primeiro curso de especialização de professores para o ensino de cegos em 1945. Em 2008, ela contou como conseguiu não desistir: ''Eu perdi a visão e ao mesmo tempo encontrei o apoio de meus pais em tudo o que eu queria realizar. Devo a eles a forma de encarar com realidade as novas situações e de resolver os problemas sem mistificações, mas dentro de uma proposta real de vida, baseada sempre na verdade. O início foi encarar a realidade como ela se apresenta, pois é aí que encontramos forças para dominar o desânimo e a falta de coragem; depois encontrar soluções mais adequadas, embora diferentes daquelas com que todos nós contamos desde os primeiros dias de vida''.

Após diplomar-se, viajou para os Estados Unidos, com uma bolsa de estudos patrocinada pelo governo americano, pela Fundação Americana para Cegos e pelo Instituto Internacional de Educação. Frequentou um curso de especialização na área de deficiência visual na Universidade de Columbia. Ao voltar ao Brasil, Dorina mergulhou no trabalho para implantar a primeira imprensa braile de grande porte no país. Também foi convidada a organizar o Departamento de Educação Especial da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Esse cargo foi fundamental para ela e seus amigos comemorarem quando a educação para cegos se transformou em atribuição do governo por força de lei. Em 1953, em São Paulo, e em 1961, em todo o país.

Companheiro de toda uma vida
Em fevereiro de 1950, casou-se com Alexandre Nowill, companheiro de toda uma vida, com quem teve cinco filhos e viveu uma relação de companheirismo em todas as atividades em que acabou se envolvendo.

Dorina foi convidada para dirigir o primeiro órgão nacional de educação de cegos no Brasil, criado pelo Ministério da Educação, em que permaneceu de 1961 a 1973 tocando projetos que implantaram serviços para cegos em diversos estados do país, além de campanhas para a prevenção da cegueira. ''Aprendi que eu mesma teria de resolver como manter as minhas aspirações dentro de um nível capaz de me satisfazer, mas nunca pensei em desistir e fui resolvendo grandes problemas, mesmo com elementos diferentes do início da minha vida.''

O reconhecimento pelo trabalho de Dorina Nowill foi além de nossas fronteiras. Ocupou cargos em organizações internacionais de cegos. Em 1979, foi eleita presidente do Conselho Mundial dos Cegos. Em 1981, Ano Internacional da Pessoa Deficiente, discursou na ONU. E ainda batalhou com ardor pela criação da União Latino-Americana de Cegos (ULAC). Certa vez, viajou sozinha a Nova York e, depois de esbarrar em muita lata de lixo, aprendeu a se virar com a bengala. ''Sem força interior não se encontram soluções. Viver tem que ser real, não pode ser uma história, é preciso viver e ‘viver é realizar’. A realidade, muitas vezes, é dura, mas é preciso enfrentá-la.''

O primeiro centro de reabilitação
Em 1989, Dorina registrou mais uma vitória, quando o Congresso Nacional ratificou a Convenção 1599 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da reabilitação, do treinamento e da profissionalização de cegos, resultado de mais uma luta, que havia começado 18 anos antes com o primeiro centro de reabilitação criado pela fundação.

O Centro de Memória da fundação guarda a história de luta pela inclusão social em sua sede, na Vila Clementino, em São Paulo. Ali, uma exposição aberta ao público orienta museus a receberem pessoas com deficiência visual e, desde 2006, promove o programa de formação em acessibilidade para museus. Estudantes cegos de todo o Brasil estudam com os livros produzidos na fundação. Eles imprimem ainda as revistas VEJA e CLAUDIA, além de outras específicas sob demanda. A Biblioteca Circulante de Livro Falado da Fundação Dorina Nowill para Cegos possui um acervo com cerca de 900 títulos em áudio de obras de diversos autores, desde clássicos da literatura brasileira aos mais variados best-sellers internacionais.

Esse serviço está disponível gratuitamente para pessoas com deficiência visual de todo o Brasil. ''Acreditamos que a educação seja o melhor caminho para a inclusão social. Para a pessoa com deficiência visual, ter acesso garantido à literatura, ao estudo ou ao entretenimento é questão primordial em seu desenvolvimento pessoal. Anualmente são produzidas milhares de páginas em braile de livros didático-pedagógicos, paradidáticos, literários e obras específicas solicitadas pelos deficientes visuais... A natureza é sábia. O rico potencial do ser humano procura suprir quaisquer perdas. É preciso enfrentá-las em toda a sua realidade. Muito difícil para uns, um pouco menos para outros, fácil para ninguém.''
Fonte:Google

Um comentário:

  1. Uma vida exemplar. Uma referência pra todos que desejam fazer um balanço existencial.

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Saudações Feministas.

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