2 de jan. de 2019

O discurso da Primeira Dama! Quando o CAPACITISMO é REproduzido pelas pessoas com deficiência.

Foto de Michelle fazendo o sinal de obrigada em LIBRAS.



Estamos iniciando o ano de 2019 e venho com o meu primeiro post aqui no meu blog.
Este post traz uma experiência vivida por mim ontem e que me deu inspiração para escrever para vocês. Deixo claro que aqui expresso minha opinião e como, eu vejo o mundo. Você que passa por aqui, não precisa concordar com o que penso, mas RESPEITAR o que escrevo.

Para iniciar deixo o significado de CAPACITISMO, titulo deste post:
Capacitismo é a discriminação e o preconceito social contra pessoas com alguma deficiência. Em sociedades capacitistas, a ausência de qualquer deficiência é visto como o normal, e pessoas com alguma deficiência são entendidas como exceções; a deficiência é vista como algo a ser superado ou corrigido, se possível por intervenção médica; um exemplo de postura capacitista é dirigir-se ao acompanhante de uma pessoa com deficiência física em vez de dirigir-se diretamente à própria pessoa.

O termo é tradução da forma nascida em países de língua inglesa, ableism. Usa-se para descrever a discriminação, preconceitos e opressão contra pessoas com deficiência física ou mental, advindos da noção de que pessoas com deficiência são inferiores às pessoas sem deficiência. Inclui, desta forma, tanto a opressão ativa e deliberada (insultos, considerações negativas, arquitetura inacessível) quanto a opressão passiva (como reservar às pessoas com deficiência tratamento de pena, de inferioridade/subalternidade).

O capacitismo pode ser relacionado às pessoas com deficiência assim como o racismo pode ser relacionado a pessoas com cor de pele diferente, ou como o machismo para as mulheres. Se baseia numa determinada concepção anatomicamente padronizada, ou seja, um padrão de corpo definido como perfeito, típico da espécie humana.

Ontem o Brasil parou ou quase parou para assistir a posse do atual presidente.Eu não me conectei em nada o dia todo, até por que não estava nada bem.
Mas a noite um pouco melhor resolvi olhar minha rede social e vi os borborinhos da posse que tomaram espaço nas redes sociais com publicações, comentários e videos sobre o discurso da Primeira Dama.
Muitas das publicações vinham de pessoas com deficiência, tudo por que a primeira dama Michele que tem conhecimento em LIBRAS, resolveu quebrar os protocolos e falou antes do presidente e em seu discurso usou a Língua Brasileira de Sinais.
Em seu discurso falou das pessoas surdas, do seu enganchamento nas causas das pessoas com deficiência, um discurso tradicionalista e populista, como tem sido nesta família.
As questões de politicas públicas  para as pessoas com deficiência e menção as mulheres se quer foram lembradas no seu discurso.
Sendo que neste governo teremos duas mulheres, ou seja, um governo de homens, sem Politicas Publicas para as Mulheres e muito menos para as mulheres com deficiência.
Não preciso aqui lembrar, que neste plano de governo se quer fomos lembradas (os) com projetos de politicas publicas para as pessoas com deficiência, mesmo a esposa de tal candidato sendo uma mulher que desenvolve ações para os mesmos, assim diz ela.
Apos questionamentos dos próprios movimentos em cobrarem um plano de governo, em um estalar dos dedos, pronunciamentos, videos e toda e qualquer tipo de marketing foi usado pensando nas pessoas surdas.
Este fato causou a admiração de muitas pessoas com deficiência no Brasil, claro pessoas favoráveis a este plano de governo, que antes não  governaria para as minorias.
O que mais me preocupou foi a repercussão entre as próprias pessoas com deficiência em serem a favor deste governo, mas até ai tudo bem, eleito pelo povo foi.
Depois de ler tantas coisas sobre este fato da posse, algo me chamou a atenção, as pessoas com deficiência desse Brasil estavam admiradas com o tal pronunciamento feito em LIBRAS.
A primeira dama, mesmo não sendo profissional, acabou tirando o lugar de uma profissional ao protagonizar o heroísmo.
Este ato foi visto como a mulher meiga, cristã e conservadora que incluirá as minorias desse Brasil, ao se pronunciar antes para as minorias ou coitadinhos.
Não bastasse todo esse teatro populista que repercutiu nas mídias, vista como fofa e que trouxe ao seu discurso o Capacitismo politico que  nos coloca nesse lugar de caridade social.
Eu resolvi em minha rede social questionar isso em uma publicação por não achar nada FOFO o ato, e que deveria ser visto como algo normal sem nenhum romantismo politico.
As migalhas que nos são oferecidas neste caso, nada mais é que um direito constitucional.
Estamos sempre lutando pelo nosso PROTAGONISMO e ver as próprias pessoas com deficiência sendo CAPACITISTA me preocupa e muito. Nós não precisamos criar heroínas e heróis quando somos lembrados ou até mesmo quando temos nossos direitos respeitados, seja por leis ou políticas públicas. Não podemos esquecer que durante décadas fomos silenciados por governos ditadores, ou vocês não lembram de nossa história.
O quanto o CAPACITISMO nos coloca neste lugar de anormal e incapaz por não seguir os padrões impostos por esta sociedade. E nos leva ao coitadismo social.
Ao me questionar sobre este fato, pude ter a certeza que também somos pessoas Capacitista ao ver um discurso como ato de bravura para as pessoas com deficiência, em especial as surdas.
Infelizmente também somos responsáveis por criar tanta desigualdade quando não nos preocupamos com o nosso país.
Somos responsáveis por ficarmos sentados esperando por um gesto de caridade que nos inclua na sociedade e juntos damos as costas para as desigualdade por nada fazer.
Só sairemos da tal invisibilidade quando não aceitarmos vivermos nos adaptando a este mundo.
Sabemos que no nosso dia a dia a tamanha humilhação que passamos para sairmos de casa por falta de acessibilidade, o quanto pagamos caro por termos alguma limitação, pois somos uma sociedade capitalista que se favorece de quem precisa e isso vem de décadas.
Mas voltando ao que aconteceu comigo.
Para ajudar minha postagem não foi bem vista por uma pessoa surda, que foi lá e se achou no direito de me cobrar explicações e me ofender por eu achar CAPACITISTA a posição das pessoas com deficiência.
 Isso é um direito meu, e se chama DEMOCRACIA, discordar de um todo, e penso ainda termos DEMOCRACIA de poder discordar das coisas neste mundo.
Estamos através destas atitudes capacitistas criando nossos heróis e heroínas que lembram das minorias, dos esquecidos, dos desiguais. Não preciso lembrar neste post que a Convenção Internacional das Pessoas com Deficiência foi a última a ser criada, que a Lei Brasileira de Inclusão levou 20 anos para ser aprovada e que o Brasil ratificou a Convenção somente em 2008 pelo atual presidente Lula.
Políticas públicas são fundamentais para as pessoas com deficiência, e nos traz a garantia  de ter acesso a educação, ao trabalho, oportunidades, moradia e saúde dignas.

Estamos avançando a passos lentos por direitos neste país, poucos somos lembrados em projetos de leis, em discursos, ações e desenvolvimento social, e a previsão para os próximos anos não são favoráveis para mulheres e homens com deficiência.
O BPC está em perigo e o que estamos fazendo? Estamos conectados em redes sociais atacando e ofendendo quem tem posição contrária a nossa.
Quantas mães com filhos com algum tipo de deficiência dependem deste benefício.
Não seras  os discursos soltos que me causarão admiração. O que me causa admiração são ações efetivas que visam incluir todas as pessoas sem discriminação nenhuma por gênero, raça, deficiência e condição social.
No ano que passou em parceria com as Inclusivass e Coletivo Feminino Plural apoiamos um projeto de lei da vereadora Margarete Moraes que vai beneficiar as mulheres com deficiência ao procurarem um posto de saúde e terem acesso aos aparelhos, ou seja, estaremos sendo incluídas para prevenir qualquer tipo de doença que muitas vezes deixamos de lado nossa saúde por termos que passar pela humilhação de não termos um atendimento humanizado.
Projeto aprovado por unanimidade na Câmara de Vereadores de Porto Alegre e lá estava eu.
Não sou uma militante vista como a coitadinha, mas sou vista como uma mulher que busca sair da desigualdade e com outras mulheres buscamos por isso, sem nenhum COITADISMO em nossa luta.
Queremos enquanto movimento de mulheres com deficiência o nosso PROTAGONISMO e um dia sermos incluídas nesta sociedade por igual. 
Para finalizar preciso lembrar que temos uma deputada que criou o projeto de lei que regulamenta, a Profissão de Tradutor e Interprete de LIBRAS (Lei Nº 12.319, de 1º de setembro de
2010), Maria do Rosário, mulher que tem andado ao lado das mulheres com deficiência desse Brasil e precisamos de pessoas comprometidas com nossos direitos, ela se quer foi exaltada e nem precisa pois fez por desenvolver em seu plano politico estas ações para todas e todos.
Confesso que não foi nada FOFO as ofensas que me fizeram escrever este post, mas sigo com minha opinião seja ela contraria ou não.
Não serei SILENCIADA e minha fala é de uma mulher com deficiência, vitima de uma sociedade machista!



6 comentários:

  1. Uauuu que texto maravilhoso, penso o mesmo até quando aceitaremos os nosso herois.Direito não é caridade mas sim constitucional.

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  2. texto reflexivo e com real relato, mo entanto nem tudo é faca. Há momento para tudo e para as pessoas com deficiência não é diferente.A militância não deve se calar mas nos unirmos em sério diálogo é hora das ações.

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    1. Concordo perfeitamente com você é preciso criar diálogo entre nós para pensarmos em como garantir tudo que ja foi conquistado.

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  3. Parabéns guerreira...adorei srustexyo! A 1a dama está se utilizando de um."lugar" que ela não representa, pois milito nesta área no Rj há 30 anos e nunca ouvi falar em nenhum projeto ou atividade/proposta que tenha vindo desta 1a Dama portanto é USISMO SIM do movimento de Lutas das PCDs do Brasil , tudo para ficar no ar o recado da "Bella Adormecida" que vai acordar um dia e ajudar as pessoas coitadinha com deficiências. Invertam essa lógica! Por trás senhor Presidente acabava on a Secadi no MEC Secretaria que cuidava de assuntos efucaeducaci relacionados as PCDs...acordem!

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    1. Oi Gabriela agradeço tua mensagem, que bom te ter aqui. Realmente o que aconteceu ontem so reforca nossa posição capacitista. Estamos retrocedendo aos nossos direitos e não podemos nos falar.

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  4. Isso vc matou de cara só no discurso. Imagino agora vendo tudo acontecer. Não tem discurso em libras que disfaça td que estão fazendo ... Governo capacitista!

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Agradeço sua mensagem.
Saudações Feministas.

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