21 de set. de 2017

O Feminismo me aproximou de minha mãe.


Foto mina e da minha mãe, ela esta abaixada ao meu lado e sorrimos.


Hoje tenho 36 anos de idade e com minha família construída,  neste momento parei pra pensar em minha mãe e resolvi escrever este texto.

O feminismo trouxe para mim muitos esclarecimento e hoje vejo minha mãe de uma maneira mais critica, humana e compreensível.
Não foi fácil escrever este texto, pois eu iniciei ele em 2015 e não dei continuidade, mas hoje me sinto mais madura para dar continuidade
Minha mãe tem 50 anos de idade, nossa relação é as vezes intensa, as vezes complicada mas marcada por cumplicidade, respeito e admiração como muitas relações entre mãe e filha.
Passei a compreender mais a minha mãe e admira-la embora esta admiração venha calçada de sacrifícios que ela não deveria ter passado por toda esta questão cultural.

Talvez ela nunca leia este texto, mas quem sabe alguém pode ler pra ela ou comentar. É um texto que carrega marcas de um passado e vivências do presente e perspectivas do futuro que podem trazer ruídos e más impressões mas é verdadeira, libertador e muito doloroso.

Sim minha mãe assumiu na sua trajetória o papel que a nós mulheres é intitulado pelo sociedade e toda essa construção cultural do ser Mulher,  mãe, dona de casa, esposa e não teve a oportunidade de estudar como tantas mulheres que se tornam mães precocemente e assumem uma família.

Sim e isso se dá no momento em que volto aos seus 15 anos de idade onde grávida de mim, dormia ainda com seus pais, mas de repente perde a mãe precocemente e se vê sozinha já comigo nos braços, uma criança cuidando de outra, meu genitor vai morar em São Paulo com sua familia e ela prefere ficar, com medo nos coloca em uma situação pior ainda onde fica comigo dentro de uma casa sozinha e começa a vender tempero verde pra me dar o que comer.
Filha casula tem mais 15 irmãos que claro foram criados por minha vó Constância, mas quem deveria dar apoio e auxilia aquela menina tão jovem e mãe são aqueles que viram as costas para ela.

O meses passam de repente é convencida a me arrumar e ir comigo  um  lugar  onde poderiam nos ajudar segundo minha tia, inocente me arruma e vai com aquelas pessoas que nem conhecia,  quando percebe me tiram dos braços e comunicam que eu teria que ficar sobre os cuidados da justiça por causa de uma denuncia de minha tia que mesmo podendo ajudar preferiu me colocar em um orfanato, foram dois anos assim minha mãe todo fim de semana ia me ver mas sofria muito por me ver naquele lugar e a justiça não dar o direito a ela de mãe.
E assim ela seguiu durante dois anos, as visitas aos fins de semana a vontade de estar comigo, ela acompanhando meu crescimento.
Em um bailizinho conhece aquele que mudaria toda nossa história, apaixonados ele não consegue  ver mais minha mãe sofrer mesmo sendo menor também pede para sua mãe me tirar daquele lugar e assim eu voltar para os braços da minha mãe.
Este foi o inicio de uma história como de muitas mulheres que jovem se veem sozinhas e abandonadas no caso da minha mãe foi o destino que  pregou uma peça sem graça com a perda daquela que era seu porto seguro sua mãe, sim meu avo morava junto e em nada era a mesma coisa e ali se repetia a construção do que é ser mulher, sim aquela que cuida dos filhos, casa e marido.
E não é que minha mãe repetia a mesma trajetória que minha vó ao se casar para poder me ter com ela novamente, construiu sua família foram 15 anos ao lado do homem que foi meu pai e é, mas uma relação conturbada e sofrida mesmo com a garra dos dois em ir em busca dos objetivos pois eram 4 bocas para comer.
Mas ela chegou a amar esse homem que assumiu sua primeira filha como fosse sua e cresci em um lar com pouco amor por parte dos dois e rodeado de muita violência física pequena e mais velha em cada briga deles eu que assumia tudo mesmo com minha vó sempre perto pois sempre ficamos com meu pai, assim cresci tão criança e já responsável, minha mãe ao saber que estávamos passando fome sempre voltava para casa sabendo que a alegria em ter ela de volta duraria por pouco tempo e nossa alegria também até a próxima briga deles.
Não quero disser que minha mãe sempre foi santa não de santa ela nada tem e cometia seus erros o que gerava toda infelicidade entre todos nós, mas meu pai errava e muito em bater nela as vezes quase até a morte, lembro que eramos pequenos e pulávamos nele até os vizinhos  se meterem.
Sim cresci em um ambiente de violência mas isso não me fez fria e violência com meu filho muito pelo contrário transmito pra ele tudo que não tive ou que tive pouco, amor e respeito pois odeio violência.
Nossa infância que pouco consigo lembrar, sempre gostei de brincadeiras de ensinar, escrever e as vezes montava uma casinha na arvore que a chata da minha irma sempre queria tudo que eu fazia e eu odiava isso pois ela sempre tirava tudo de mim e claro eu sempre escutava aquela frase tu é mais velha que ela. Eram essas nossas brincadeiras tínhamos poucos brinquedos, roupa era dificil ganhar.
Sim ser a mais a velha é chato pra caramba e eu odiava a ideia de ter que cuidar da casa enquanto meus pais trabalhavam e cuidar dos meus irmãos pois esta é a realidade do ser MULHER, e comigo não foi diferente, sim assumi o papel da minha mãe.
Minha mãe sempre foi muito caprichosa e adorava limpar e arrumar a casa, tirava tudo do lugar e quando meu pai vinha tarde pra casa duro de pinca ou caia ao resbalar no tapete ou trocava  quarto por sala, coisas de mãe e que hoje eu faço o mesmo.
Meu pai tinha uma vida interessante, não perdia tempo com picuinhas de crianças ou com os afazeres de casa e deixava esse papel para a mãe, noites em hospital, noites acordadas e eu tendo que mesmo pequena ir para o hospital para que minha mãe pudesse tomar um banho pois descansar não dava.
Ela que abria não de seus empregos para fazer o seu papel enquanto meu pai seguia sua vida normalmente não abrindo mãe de sua vida.
Entendo minha mãe quando aceitou muitas vezes que meu pai passasse as noites na rua, bebendo, jogando seu futebol e com seus amigos enquanto ela seguia.
Já na adolescência não queria repetir o mesmo erros dos meus pais, sempre gostei de estudar e assim segui nos meus estudos mas carregava comigo muita independência comecei a trabalhar cedo pois queria ter minhas coisas e meu dinheiro.
Muitas vezes tive vontade de fugir de casa pois ver minha mãe sofrendo e apanhando doía e não queria mai estar ali, a paz durava pouco pois quando os dois bebiam pronto a paz virava em inferno.
Fico aqui pensando que toda essa independência desde pequena já era uma posição feminista que me dominava ao querer ser eu.
Hoje consigo entender melhor todo sofrimento de minha mãe e das tantas vezes que saiu de casa e teve que voltar por causa dos filhos, essa mulher carregava com ela dor e um silêncio, tinha que se virar em mil, trabalhar, cuidar de nós, do meu pai e da casa.
Lembro que muitas vezes acordava com meu pai espraguejando minha mãe por que ela não havia lavado suas meias e cuecas, como se a minha mãe tivesse  essa responsabilidade, mas pra quem foi criado por minha vó com tudo nas mãos e isso ela reproduziu para seus netos, claro que meu pai queria uma mulher ao lado dele que nem minha vó.
Dai faço uma reflexão do quanto as coisas são reproduzidas nas gerações e são criações machistas do dia a dia onde o homem é aquele que tem tudo nas mãos e até a sua cueca lavada e passada, mas no caso da minha mãe ela sem querer tinha posições FEMINISTAS mesmo sem saber, sim era uma dona de casa, bela e nem tanto recatada.
Sim as vezes rebelde e decidida mas seria talvez as dificuldade da vida a deixou assim ou era sua personalidade que muitas vezes preferia sair de casa para ter paz e nos deixar por não ter como nos levar, mas esta valentia carregava consigo a determinação de ter que voltar para casa.
 Minha mãe mudou e muito hoje separada a 17 anos é outra mulher, madura e determinada ela precisava se libertar deste casamento que trouxe tanto sofrimento mas acredito que momentos bons pois meus pais eram grandes companheiros em querer crescer juntos.
Hoje dezessete anos passado não permite que homens mandem em sua vida, é livre e assume sua posição sobre o ser mulher.
Tenho orgulho dessa mulher pois com todo o sofrimento que a vida lhe trouxe não perdeu seu brilho e a vontade de viver, dona de uma resiliência, um humor que as vezes acho que continua imatura e moleca mas dona SI.
Entendo minha mãe quando aceitou muitas vezes que meu pai passasse as noites na rua, bebendo, jogando seu futebol e com seus amigos, sim meu pai não dava

O Feminismo mudou minha relação com minha mãe no momento que trouxe para minha vida essa violência sofrida por ela por anos e que no meu caso me deixou em uma cadeira de rodas.
O Feminismo mudou minha relação com minha mãe quando hoje sou mãe e infelizmente passo por muitas coisas que ela passou e que me permitem ser a melhor MÃE do mundo abrindo mão de muitas coisas pois sou mãe por opção e escolha.
O Feminismo mudou minha relação com minha mãe quando hoje somos grandes amigas e cúmplices do ser mãe e filha.
Hoje tenho a certeza que o FEMINISMO não entrou tardiamente na minha vida mas no tempo de poder refletir e poder enxergar a mulher que me colocou no mundo e nunca desistiu de mim, sou grata a mulher que me tornei e hoje posso ve-la de uma maneira clara e sem sombras.

Admiro dia após dia essa grande mulher que se chama VERA.
                                                 
                                            SOU AQUILO QUE VC ME ENSINOU....
                                                    UMA GRANDE MULHER....





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Saudações Feministas.

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