15 de mai. de 2013

Mulheres driblam deficiências para poder cuidar dos filhos.

Jucilene Braga, que é cega desde a infância, cuida sozinha do filho Fernando, de 4 meses. Foto: Zé Carlos Barretta/Folhapress.


Por Jairo Marques (Folha de S. Paulo)

Jucilene Braga, 32, que é cega, dorme com ouvidos atentos à respiração de seu recém-nascido; Katya Hemelrijk da Silva, 38, dá “boa noite” antes de os dois filhos adotivos deitarem-se na cama para conseguir alcançar seus rostos da cadeira de rodas; Fabíola Dreher Guimarães, 23, com 1,22 m de altura, acostumou a filha a não querer colo a toda hora.

Juntas, as três demonstram que ter uma deficiência física ou sensorial não distancia mulheres do desejode ser mãe e que a criação de filhos pode ser adaptada para realidades distintas.

Com 90% de chances de transmitir sua síndrome –que provoca extrema fragilidade óssea– a um filho gerado naturalmente, Katya e o marido, Ricardo Severiano da Silva, decidiram adotar. Dois anos após o início do processo, o casal recebeu em casa Yasmin, 7, e Renan, 8, irmãos e “espoletas”.


Jucilene Braga, que é cega desde a infância, cuida sozinha do filho Fernando, de 4 meses. Foto: Zé Carlos Barretta/Folhapress.

“Minha referência de mãe era muito boa e eu queria ser o mesmo para alguém. Muita gente diz que botar filho no mundo é colocá-los no sofrimento. Nós brincamos aqui em casa o que fizemos foi tirar dois do sofrimento.”

Os desafios de Katya, que é coordenadora de comunicação, segundo ela, são os mesmos de outras mães. O que muda são detalhes no dia a dia para que tudo se ajeite.

“Eles já entendem que a mãe tem uma realidade física diferente e agem com muita naturalidade. A Yasmin gosta de andar abraçada comigo, mesmo, vez ou outra, enroscando os pés nas rodas da cadeira. O Renan adora sentar no meu colo.”

ACIMA DA CINTURA

A analista de Recursos Humanos Fabíola, que tem nanismo e é casada com uma pessoa também pequena, Fernando Vieira Guimarães, 30, que tem 1,33 m de altura, sempre imaginou que teria um bebê que não cresceria muito além dela.


Cadeira de rodas não impede Katya Hemelrijk da Silva, 38, de brincar e cuidar dos filhos adotivos. Foto: Avener Prado/Folhapress.

Lívia, de um ano e nove meses, subverteu a alta probabilidade (83%) de puxar aos pais e nasceu sem nanismo. Já passou bem mais da cintura da mãe.

“Todos os dias penso no fato que ela ficará maior que eu. Então, tento educá-la para que entenda bem as diferenças, tenha informação sobre a condição dos pais. As pessoas me perguntam direto como ela nasceu com estatura comum. Curiosidade é comum, então explico como aconteceu. Quero que ela aja da mesma forma.”

Lívia já aprendeu que a mãe não pode carregá-la no colo o tempo todo. Em passeios pelo shopping, elas andam de mãos dadas. “Ela não reclama, não chora e fica toda feliz.”

COBRANÇA

Questionada se não é angustiante o fato de não poder ver o sorriso do filho, a psicologa Jucilene, cega desde a infância, é enfática.

“Não diria angústia, mas, sim, um desejo de retribuir o olhar ou o sorriso dele e interagir mais no campo visual. Como não tenho esse recurso à disposição, a recompensa vem por meio de mil outras maneiras”.

Jucilene usa técnicas que aprendeu em cursos específicos para mães cegas e também seus outros sentidos, como audição e tato, para cuidar sozinha do filho Fernando, que está com quatro meses de idade.

“Filho de cego não pode ficar um pouco sujinho, não pode levar um tombo ou fazer arte, igual a qualquer criança. Caso aconteça, logo vem um dizer que é porque a mãe não enxerga. Eu me cobro muito para que o Fernando esteja sempre impecável.”

ACESSO

As mães dizem que a preocupação com acessibilidade e inclusão aumentou ainda mais depois que tiveram seus filhos. “Não quero ficar em um cantinho, longe dos meus filhos, quando vou ao cinema ou ao teatro. Quero que os espaços respeitem a minha condição física e me permitam ficar junto com a minha família”, diz Katya.

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