26 de ago. de 2012

Deficiência Física-Motora e as Tecnologias Assistivas


Desenho de um menino cadeirante e a frase: Ser deficiênte é ser eficiente!


O tema da inclusão de crianças deficientes nunca esteve tão presente no meio educacional como vem acontecendo atualmente. A valorização das particularidades de cada aluno, o atendimento a todos na escola, a incorporação da diversidade sem nenhum tipo de distinção, têm sido o foco de muitas discussões entre os educadores. 
Porém sabe-se que ainda há uma forte resistência, por parte de alguns professores, em atender estas crianças em suas salas de aula. A grande e talvez a mais forte das causas para tal postura está no despreparo em conseqüência da falta de conhecimento das deficiências propriamente ditas e das possibilidades para se trabalhar com aluno             portadores das mesmas. 
Buscando responder nossas próprias dúvidas (que talvez também sejam a de muitas outras pessoas!) estaremos nos aprofundando sobre um tipo de deficiência: a deficiência física-motora. Também fará parte desta pesquisa o uso das tecnologias como ferramentas de auxílio em todo este processo de inclusão, uma vez que as mesmas permitem o aumento da autonomia e independência destas pessoas em suas atividades domésticas ou ocupacionais de vida diária.


 O que é deficiência física-motora?

A deficiência física-motora refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema ósteo-articular, o sistema muscular e o sistema nervoso. As doenças ou lesões (sejam neurológicas, neuromusculares, ortopédicas, ou ainda de mal formação congênitas ou adquiridas) que afetam um desses sistemas, podem produzir quadros de limitações físicas de grau e gravidade variáveis de acordo com a parte do corpo afetada.
  Tais limitações resultam numa dificuldade de interação com a sociedade numa dimensão tal, que pessoas portadoras das mesmas necessitam de serviços ou programas especializados.

Ou dito de outra forma, conforme a socióloga Marta Gil:
"A deficiência física pode ser definida como uma desvantagem, resultante de um comprometimento ou de uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho motor de uma determinada pessoa, ocasionando alterações ortopédicas e/ou neurológicas."


Conclui-se portanto que são consideradas portadoras de deficiência física as pessoas que apresentam comprometimento da capacidade motora, baseando-se nos padrões considerados normais para nós seres humanos. Cabe ainda salientar que a deficiência física não tem nada a ver com deficiência mental; a deficiência física afeta as funções motoras e não a parte cognitiva da pessoa.
Na maioria dos casos, a inteligência fica preservada.

Quais são as causas principais que levam a sua ocorrência?


As causas da deficiência física nos jovens ou adultos, pode resultar de um acidente vascular cerebral (derrame), de traumatismo craniano, de lesão medular ou de amputação. Sendo que a violência urbana, que tem sido tão focalizada pela mídia, como acidentes no trânsito ou de trabalho, está se tornando a principal causa da deficiência física.

Em relação às crianças, as causas da deficiência física podem ser:
Pré-natais: problemas durante a gestação, remédios ingeridos erradamente, tentativas de aborto mal sucedidas, perdas de sangue durante a gestação, crises maternais de hipertensão, problemas genéticos. Infecções intra uterinas como rubéola, toxoplasmose, sífilis, radiações, tóxicos, álcool, chumbo, drogas, etc.
Perinatais: problemas respiratórios na hora do nascimento, prematuridade, bebê que entra em sofrimento por passar da hora do nascimento, cordão umbilical enrolado no pescoço, posição incorreta da criança para nascer.
Pós-natais: infecções no cérebro como meningite e encefalite, inflamações e abscessos no cérebro, traumatismo no crânio (quedas ou outros acidentes), parada cardíaca, infecção hospitalar e fator RH (quando o sangue do bebê não combina com o da mãe).

 Quais os tipos de deficiência física-motora?

_Lesão cerebral: 

* Paralisia cerebral: distúrbio do movimento e/ou da postura que ocorre em conseqüência de uma lesão que pode ter ocorrido no cérebro durante a gestação, na hora do parto ou logo após o nascimento, devido a uma interrupção no fornecimento de oxigênio para o cérebro. A lesão afeta, em graus variados, a fala, a coordenação motora ou a locomoção.

  *Hemiplegias: quando a metade esquerda ou direita do corpo fica paralisada, em decorrência da lesão de células nervosas do cérebro que comandam o movimento desta parte do corpo.

_Lesão medular:

*Tetraplegias: paralisia dos membros superiores (braços) e dos inferiores (pernas).
 
*Paraplegias: paralisia dos membros inferiores (pernas).
 
 
_Miopatias (distrofias musculares):

abrangem um grupo de disfunções musculares com alguns sintomas em comum, resultantes de falhas no desenvolvimento de fibras musculares e outras.

_Esclerose múltipla:
 
doença degenerativa que ataca o sistema nervoso, provocando enrijecimento dos membros e dificuldades de locomoção.
 
_Espinha bífida:
  
ocasionada pela má formação da coluna vertebral e da medula espinhal, durante a formação do feto.
 
_Amputações:

pessoas amputadas também são incluídas no grupo das portadoras de deficiência física, tanto as que nasceram sem um membro, perderam-no em um acidente ou precisaram tirá-lo por motivo de saúde, como um problema circulatório ou de gangrena.
   Além destas podemos citar também:

Lesões nervosas periféricas; Seqüelas de politraumatismos; Malformações congênitas; Distúrbios posturais da coluna; Seqüelas de patologias da coluna; Distúrbios dolorosos da coluna vertebral e das articulações dos membros; Artropatias; Reumatismos inflamatórios da coluna e das articulações; Lesões por esforços repetitivos (L.E.R.); Seqüelas por queimaduras.


Existem tratamentos para a deficiência física-motora? Quais?

Os portadores de necessidades especiais de ordem física ou motora necessitam de atendimento fisioterápico, psicológico a fim de lidar com os limites e dificuldades decorrentes da deficiência e simultaneamente desenvolver todas as suas possibilidades e potencialidades.
Porém, a prevenção pode contribuir para reduzir o percentual de brasileiros paraplégicos ou tetraplégicos, ou com algum tipo de paralisia.
A prevenção tem duas vertentes: evitar acidentes (de automóveis, com armas, quedas e mergulhos) causadores de lesões traumáticas, e doenças que podem levar à deficiência.

Como medidas preventivas pode-se ainda adotar:
 _Maior conscientização das mulheres acerca da necessidade de fazer acompanhamento médico, pré-natal.
_Melhor infra estrutura nos berçários para atender recém-nascidos e assepsia do local.
_Pessoal treinado para atendimento e resgate das vítimas nos acidentes de trânsito.
_Conscientização dos riscos de hipertensão e da diabetes.
_Adotar medidas de segurança no trânsito, no ambiente de trabalho e na prática de esportes.


Qual o papel das tecnologias assistivas na vida de uma pessoa com deficiência física-motora?


Tecnologia assistiva é o nome utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e conseqüentemente promover sua independência e inclusão.
Fazemos uso constante de ferramentas que foram especialmente desenvolvidas para favorecer e simplificar nossas atividades cotidianas, como os talheres, canetas, computadores, controle remoto, automóveis, telefones celulares, relógio, enfim, uma interminável lista de recursos, que já estão assimilados a nossa rotina e, “são instrumentos que facilitam nosso desempenho em funções pretendidas”. De igual forma, também pessoas deficientes, utilizam tais ferramentas, só que especialmente adaptadas para elas a fim de ampliar sua comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado e trabalho.
Proporcionando qualidade de vida e inclusão.

Gostei de uma citação adaptada de Mary Pat Radabaugh que diz:

“Para as pessoas, a tecnologia torna as coisas mais fáceis.
Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis”.


Categorias de tecnologias assistivas:


 

Existem diversas categorias de tecnologias assistivas, porém como estamos falando de deficiência física-motora, iremos abordar algumas que auxiliem este tipo de deficiência. Cabe salientar que as informações contidas nos itens de 1 até 9, são de autoria de
Rita Bersch / CEDI • Centro Especializado em Desenvolvimento Infantil / Porto Alegre / RS / 2005.

1-Auxílios para a vida diária e vida prática:
Materiais e produtos que favorecem desempenho autônomo e independente em tarefas rotineiras ou facilitam o cuidado de pessoas em situação de dependência de auxílio, nas atividades como se alimentar, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais. São exemplos os talheres modificados, suportes para utensílios domésticos, roupas desenhadas para facilitar o vestir e despir, abotoadores, velcro, recursos para transferência, barras de apoio, etc.

2-CAA - Comunicação Aumentativa e Alternativa:
Destinada a atender pessoas sem fala ou escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar e/ou escrever. Recursos como as pranchas de comunicação, construídas com simbologia gráfica (BLISS, PCS e outros), letras ou palavras escritas, são utilizados pelo usuário da CAA para expressar suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos. A alta tecnologia dos vocalizadores (pranchas com produção de voz) ou o computador com softwares específicos, garantem grande eficiência à função comunicativa.

3-Recursos de acessibilidade ao computador:
Conjunto de hardware e software especialmente idealizado para tornar o computador acessível, no sentido de que possa ser utilizado por pessoas com privações sensoriais e motoras.
São exemplos de equipamentos de entrada os teclados modificados, os teclados virtuais com varredura, mouses especiais e acionadores diversos, softwares de reconhecimento de voz, escâner, ponteiras de cabeça por luz entre outros.

4-Sistemas de controle de ambiente:
Através de um controle remoto, as pessoas com limitações motoras, podem ligar, desligar e ajustar aparelhos eletro-eletrônicos como a luz, o som, televisores, ventiladores, executar a abertura e fechamento de portas e janelas, receber e fazer chamadas telefônicas, acionar sistemas de segurança, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escritório, casa e arredores. O controle remoto pode ser acionado de forma direta ou indireta e neste caso, um sistema de varredura é disparado e a seleção do aparelho, bem como a determinação de que seja ativado, se dará por acionadores (localizados em qualquer parte do corpo) que podem ser de pressão, de tração, de sopro, de piscar de olhos, por comando de voz, etc.

5-Projetos arquitetônicos para acessibilidade:
Adaptações estruturais e reformas na casa e/ou ambiente de trabalho, através de rampas, elevadores, adaptações em banheiros entre outras, que retiram ou reduzem as barreiras físicas, facilitando a locomoção da pessoa com deficiência.

  6-Órteses e próteses:
Próteses são peças artificiais que substituem partes ausentes do corpo.
Órteses são colocadas junto a um segmento corpo, garantindo-lhe um melhor posicionamento, estabilização e/ou função. São normalmente confeccionadas sob medida e servem no auxílio de mobilidade, de funções manuais (escrita, digitação, utilização de talheres, manejo de objetos para higiene pessoal), correção postural, entre outros.

7-Adequação Postural:
Ter uma postura estável e confortável é fundamental para que se consiga um bom desempenho funcional. Fica difícil a realização de qualquer tarefa quando se está inseguro com relação a possíveis quedas ou sentindo desconforto.
Um projeto de adequação postural diz respeito à seleção de recursos que garantam posturas alinhadas, estáveis e com boa distribuição do peso corporal. Além destes objetivos, a adequação postural buscará também o controle e prevenção de deformidades músculo-esqueléticas, a melhora do tônus postural, a prevenção de úlceras de pressão, a facilitação das funções respiratórias e digestivas e a facilitação de cuidados.
Indivíduos cadeirantes, por passarem grande parte do dia numa mesma posição, serão os grandes beneficiados da prescrição de sistemas especiais de assentos e encostos que levem em consideração suas medidas, peso e flexibilidade ou alterações músculo-esqueléticas existentes.
Adequação postural diz respeito a recursos que promovam adequações em todas as posturas, deitado, sentado e de pé portanto, as almofadas no leito ou os estabilizadores ortostáticos, entre outros, também podem fazer parte deste capítulo da TA.

8-Auxílios de mobilidade:
A mobilidade pode ser auxiliada por bengalas, muletas, andadores, carrinhos, cadeiras de rodas manuais ou elétricas, scooters e qualquer outro veículo ou equipamento ou estratégia utilizada na melhoria da mobilidade pessoal. Um exemplo de estratégia seria a colocação de pistas sensoriais facilitando a identificação do lugar, dentro de um espaço controlado como a casa, escola ou trabalho.

9-Adaptações em veículos:
Acessórios e adaptações que possibilitam uma pessoa com deficiência física dirigir um automóvel, facilitadores de embarque e desembarque como elevadores para cadeiras de rodas (utilizados nos carros particulares ou de transporte coletivo), rampas para cadeiras de rodas, serviços de auto- escola para pessoas com deficiência.

Concluindo...
Deficiente físico e inclusão: uma questão de direito.

 Diante de tantas possibilidades e recursos tecnológicos, fica ainda mais evidente que o deficiente físico-motor, assim como todos os outros deficientes, pode e deve ser integrado cada vez mais ao convívio social. Sendo que a influência familiar exerce papel imprescindível nesta integração.

"Quanto mais integrada em sua família uma pessoa com deficiência for, mais esta família vai tender a tratá-la de maneira natural ou "normal" deixando que, na medida de suas possibilidades, participe e usufrua dos recursos e serviços gerais da sua comunidade; conseqüentemente, mais integrada na vida social esta pessoa será. Paralelamente, quanto mais ela estiver participando das atividades da comunidade e levando uma vida "normal" equivalente à de outras pessoas da sua faixa etária, mais ela será vista pelos membros de sua família como "igual aos demais". (Deficiência física, In: Cadernos da TV Escola, p. 83)

De igual modo, também a Escola tem papel importante, porque este é um dos espaços onde o deficiente pode desenvolver seu potencial intelectual e interagir com outras pessoas em sua faixa etária. Claro que serão necessárias adaptações, o uso de recursos especiais (tecnologias assistivas), o conhecimento prévio da deficiência em questão... e cabe à família fazer esta ponte, passando as informações necessárias referentes às necessidades especiais, os limites e potencialidades deste indivíduo.


Segundo Maria Christina B. T. Maciel: "A sociedade, por sua vez, precisa aprender a conviver com as diferenças individuais de cada um. O professor e toda a equipe escolar devem criar uma relação de confiança com o aluno, descartando a hipótese de ele vir a ter medo ou vergonha de não aprender imediatamente o que está sendo ensinado. Na verdade, a diferença de ritmo pode acontecer com qualquer criança, portadora ou não de necessidades especiais. Assim, é fundamental criar uma relação de confiança com todos os alunos.
A escola é muito importante para qualquer criança, mas é ainda mais importante para a criança com deficiência. É na escola que a criança aprende a confiar em si mesma, percebendo que é capaz de realizar a maioria das atividades, embora levando um pouco mais de tempo."

Embora sejam a Família e a Escola espaços ricos de convívio e aprendizagem, eles não são os únicos. Existem muitos outros espaços onde a vida também acontece, mas a verdade é que muitos deles foram feitos sem se pensar nas pessoas portadoras de deficiências, tornando-se inacessíveis a elas. Está na hora das autoridades fazerem cumprir as leis, pois o direito de ir e vir a todo e qualquer lugar é direito de todo cidadão, portador de deficiência ou não.


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