14 de jun. de 2012

Livro infantil com audiodescrição. Por Lívia Villela Motta.


Matéria retirada da Revista Sentidos.

Compreender as diferenças e conviver em harmonia com elas. Esse é o principal objetivo do livro da jornalista Mônica Picavêa, autora de Simplesmente Diferente. A publicação é pioneira na utilização da audiodescrição para o público infantil. Esta técnica, desenvolvida no Brasil por Lívia Maria Villela de Mello Motta, professora-doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, tem trazido grandes vantagens para pessoas com deficiência visual.
Mônica explica: “É uma nova forma de enxergar. É importante não confundir com o audiolivro, no qual uma pessoa lê a história para outras. Na audiodescrição, todas as imagens são descritas de forma a serem compreendidas pelas pessoas. O Simplesmente Diferente vem acompanhado de um CD com um narrador a descrever aquilo que compreendemos visualmente e que não está contido nos diálogos, como ilustrações, expressões faciais e corporais”.
O livro tem sido uma ferramenta importante de
conscientização e inclusão das pessoas com deficiência
A ideia de Mônica surgiu da sua convivência com pessoas com deficiência visual. “Realizo trabalhos voluntários com esse pessoal há 15 anos, participando, inclusive, do Grupo Terra, que promove corridas de aventuras. A equipe conta com dois deficientes visuais, que dão um verdadeiro show nas provas esportivas. Essa experiência me ajudou muito a desenvolver outras maneiras de entender o mundo”.
O estopim para a ideia se concretizar foi o nascimento de suas filhas gêmeas, Laura e Luiza, hoje com 2 anos. O desejo de Mônica era que as meninas, desde muito cedo, encarassem a relação com as diferenças de uma forma totalmente natural. “Passei, então, a procurar na literatura opções que transmitissem essa naturalidade na convivência. No entanto, a maioria dos livros tinha, em sua base, apenas um olhar de ajuda às pessoas com deficiência. Não era isso o que eu queria”.
Foi então que a jornalista decidiu escrever Simplesmente Diferente. É um livro com sete histórias reais, baseadas em sua vivência e experiência na área, publicado pela Editora J.J. Carol. Mônica procurou Lívia de Mello Motta e, desse encontro, formou-se a parceria que rendeu frutos, ou seja, o livro com a audiodescrição. Com ilustrações de Hugo Serra, a publicação saiu inicialmente com tiragem de mil exemplares. Desse total, 800 foram distribuídos em escolas públicas.
A aceitação foi tanta que surpreendeu a própria Mônica. “Hoje, o livro foi aprovado pelo MEC e indicado como paradidático”. A autora faz um trabalho com crianças carentes em favelas e a obra tem sido uma ferramenta importante de conscientização e inclusão das pessoas com deficiência.
Mônica assegura que está plenamente satisfeita com o resultado. “Para minhas filhas, todas as diferenças são naturais, tanto a cadeira de rodas quanto as pessoas com deficiência visual ou qualquer outro tipo. E essa semente é que espero disseminar em todos os leitores”, finaliza.
Fotos Divulgação
Mônica Picavêa comemora o sucesso do livro com o ilustrador Hugo Serra
Experiência
A professora Lívia Maria Villela de Mello Motta trabalha com a audiodescrição desde 2004. Ela explica: “A técnica é um recurso de acessibilidade que amplia o entendimento das pessoas com deficiência visual em eventos culturais, gravados ou ao vivo, como peças de teatro, programas de TV, exposições, mostras, musicais, óperas, desfiles e espetáculos de dança, além de eventos turísticos, esportivos, pedagógicos e científicos, como aulas, seminários, congressos, palestras, feiras e outros, por meio de informação sonora”.
O desejo de Mônica era que as meninas, desde cedo, encarassem a relação com as diferenças de forma natural
Fotos Divulgação
A professora Lívia Maria Motta aposta na utilização da audiodescrição em inúmeras atividades
A professora dirige o Teatro Vivo, primeiro na aplicação da técnica no País. “Utilizamos um ator, locutor ou dublador para a narração, seja ao vivo ou gravada. Esses profissionais se submetem a um curso para se familiarizar com a audiodescrição. A partir daí, eles passam a exercer a atividade, pois não basta apenas ter uma boa condição de voz e interpretação. É fundamental que se conheça bem a técnica”, revela. Outra vantagem é o novo mercado de trabalho que se abre para quem tem como instrumento de ofício a própria voz.
Lívia faz questão de ressaltar que a audiodescrição também cumpre um papel de relevância em relação à inclusão cultural, social e escolar para pessoas com deficiência intelectual, idosos e disléxicos, provando a versatilidade do método.

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